Wednesday, November 11, 2020

OS EUA NÃO SÃO (NEM NUNCA FORAM) TRUMPISTAS

A recente derrota eleitoral de Donald Trump veio consolidar uma realidade sobre os EUA: Trump não é, nem nunca foi, o preferido pela maioria dos estadunidenses.

Se, em 2016, quando Trump foi eleito, ele já tinha perdido no voto popular por cerca de 3 milhões de diferença, agora, com a derrota face a Joe Biden, essa distância aumentou para 5 milhões.

Não fosse arcaico o sistema eleitoral dos EUA, protector dos Estados rurais pouco populosos e com a regra do “winner takes it all”, há muito que os republicanos não conseguiriam estar no poder.

A verdade é que, das últimas 8 eleições presidenciais nos EUA, 7 foram vencidas, no voto popular, pelos democratas: com métodos proporcionais, G. W. Bush não teria sido eleito em 2000, nem Trump em 2016 (só G. W. Bush em 2004, aquando da sua reeleição, ganhou o voto popular). De resto, Al Gore e Hillary Clinton teriam sido eleitos.

Também ao nível das duas câmaras do Congresso, os métodos eleitorais não proporcionais protegem os republicanos, que tudo têm feito para bloquear qualquer mudança.

Ou seja, só as regras desvirtuadoras da proporcionalidade têm permitido uma governação dos EUA tão à direita. Mas, mesmo com essas regras, as dinâmicas demográficas dos EUA estão a minar as possibilidades do poder republicano.

Olhando para a composição demográfica dos votos, aquilo que se percebe é que as mulheres, os não brancos, os jovens e os habitantes das áreas com alta densidade populacional votam massivamente nos democratas (também assim os mais qualificados, mas de forma menos notória).

Ora, acontece que o progresso faz com que as mulheres tenham cada vez mais voz (votem mais e se libertem do machismo republicano), que os não brancos estejam cada vez mais integrados e participativos (e têm aumentado a sua proporção no país) e que as pessoas se desloquem para a cidade, desertificando o campo.

Mesmo aqueles de quem se disse terem sido os responsáveis pela eleição de Trump em 2016, os trabalhadores brancos, pouco qualificados e ameaçados pela globalização, da “cintura da ferrugem”, votam maioritariamente democrata (só as já referidas distorções permitiram que os republicanos ganhassem nesses Estados em 2016).

Ou seja, apesar de haver muito quem tenha votado em Trump, a maioria não votou nele, votou contra ele. Antes de serem trumpistas, os EUA são anti-Trump. Mais, os que mais o apoiaram foram os homens brancos, que vêem em Trump um protector dos seus privilégios machistas, raciais, religiosos e económicos. Assim, quantas mais mulheres e não brancos tiverem autonomia financeira e cultural, menos apoio existirá para os republicanos.

E mais, não acredito em trumpismo sem Trump: o trumpismo dependia obsessivamente da personagem histriónica Trump e da sua pornográfica ausência de sentido de Estado. Mas, agora, o povo foi claro: o trumpismo é extenuante, catalisador de violência e incompetente (como a pandemia provou).

As mulheres estadunidenses não gostam de ser “agarradas pela passarinha” sem autorização, os não brancos não gostam de ser enxovalhados, discriminados ou asfixiados pela polícia, nem as pessoas urbanas admitem que lhes castrem o modo de vida liberal, ao nível da sexualidade ou escolhas familiares e profissionais. Nem mesmo as grandes empresas aceitam que haja retrocessos ao nível da globalização e do capitalismo liberal.

Isto é, o trumpismo é uma realidade sem futuro histórico.

Gabriel Leite Mota, publicado no Público a 11 de Novembro de 2020

Thursday, November 5, 2020

TIME TO DRAIN SHIT SPEACH

À hora a que escrevo este texto ainda não estão contados todos os votos das eleições presidenciais dos EUA de 2020 e ainda não se sabe quem ganhou a eleição.

Thursday, October 22, 2020

THE LESSER EVIL

Desde que começou a pandemia que tem sido aceso o debate acerca de quais as melhores estratégias para combatê-la e, em particular, se devemos proteger mais a saúde, com o confinamento, ou não deixar morrer a economia, mantendo, ao máximo, a vida normal.

Thursday, October 8, 2020

HAPPINESS SCIENCE AS A SOLUTION

A ciência no século XXI tem três principais caminhos: a biotecnologia, as novas fontes energéticas e o estudo da felicidade.

Se a biotecnologia e os problemas energéticos têm tido atenção mediática, o estudo científico da felicidade tem passado mais despercebido.

Thursday, September 24, 2020

POR UM PORTUGAL DE LUXO

Aproveitando a discussão que se está a ter em Portugal acerca da estratégia desenvolvimentista para o país no curto, médio e longo prazos – que o Governo impulsionou através do denominado “plano Costa Silva”, que visa ser um guião para o aproveitamento dos fundos comunitários extraordinários que vão acorrer a Portugal, para se responder aos desafios da pandemia, da sustentabilidade ambiental e do reposicionamento do país no ranking europeu e mundial – penso que se deve organizar essa estratégia à volta de uma lógica global: tornar Portugal um país de luxo.

Thursday, September 10, 2020

Hoje é apresentada a candidatura presidencial de Ana Gomes.

Depois de um período de hesitação, esta candidatura surge da necessidade do centro-esquerda ter uma representação nas presidenciais.

Friday, September 4, 2020

A OBJECÇÃO À CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO

Tem sido tema de debate a unidade curricular do ensino público obrigatório, “Cidadania e Desenvolvimento”, na qual se pretende transmitir aos alunos e alunas noções básicas de vida em sociedade e de respeito pelo outro.

Se, do ponto de vista teórico, seria de esperar que tal unidade curricular fosse tranquilamente aceite num país dito desenvolvido do mundo ocidental, Portugal, em pleno século XXI, a prática revelou-se diferente.

O ponto de partida para a polémica é uma querela, agora em contencioso judicial, entre pais de alunos de uma escola de Famalicão e a escola e a secretaria de Estado da Educação. Esses pais, por não gostarem dos conteúdos de Cidadania e Desenvolvimento, obrigaram os filhos a faltar à dita disciplina. Como ela é obrigatória, os alunos (com bom aproveitamento escolar em todas as outras unidades curriculares), chumbaram por faltas.

Independentemente da luta judicial e sua resolução futura, a questão central aqui é saber:

1. Se faz sentido o ensino público obrigatório ter tal disciplina;

2. Se ela deve ser obrigatória ou optativa.

Os objectores de consciência à Cidadania e Desenvolvimento argumentam que esta unidade curricular impõe uma visão do mundo, uma ideologia, que não é partilhada por todos, logo não deve ser obrigatória. Mais, dizem que não compete ao Estado inculcar qualquer noção comportamental ou moral às crianças, apenas os pais têm esse direito.

Do meu ponto de vista, a argumentação usada por estes objectores é fraca, equívoca e reveladora de uma falta de crença na força das suas convicções. A saber:

1. Tudo na vida tem uma dimensão ideológica. Atacar uma disciplina na base de que ela divulga uma dada concepção ideológica, em vez de outras, é uma falácia. Todas fazem isso! Porque se estuda numeração árabe e não romana? Porque se fala de Frei Luís de Sousa e não de Vitor Silva Tavares? Porque se fala de ciência e não de criacionismo ou terra-planismo? Que disciplinas se leccionam? Que conteúdos se dá em que idades? Quais são mais aprofundados? Porquê estudar inglês e não mandarim ou japonês? Porque não estudar ciências sociais desde o 5.º ano de escolaridade? São tudo opções ideológicas que têm de ser feitas por quem de direito, neste caso, o Estado democrático, através do Ministério da Educação. Estas escolhas têm impacto na formação dos alunos? Sim, e é suposto que sim.

2. Olhando para os conteúdos leccionados em Cidadania e Desenvolvimento, torna-se mais esdrúxula esta objecção. Nesta disciplina pretende-se que os alunos aprendam a pensar (ter pensamento crítico) e a agir sobre: empreendedorismo; literacia financeira e educação para o consumo; igualdade de género; interculturalismo; desenvolvimento sustentável; direitos humanos; educação ambiental; saúde; mundo do trabalho; risco; segurança, defesa e paz; bem-estar animal; voluntariado; média; instituições e prática democrática; sexualidade; segurança rodoviária. Vendo esta lista, percebe-se que ela foi elaborada com rigor. Porque vai muito ao encontro dos objectivos de desenvolvimento sustentável definidos pelas Nações Unidas (sendo o desenvolvimento sustentável e as questões ambientais fulcrais para o futuro da humanidade) e abarca uma série de tópicos que Portugal precisa de desenvolver, face aos países mais desenvolvidos da Europa, como o empreendedorismo, o voluntariado, a literacia financeira e de consumo, a prática democrática, os direitos humanos, a igualdade de género ou a segurança rodoviária.

Portugal tem baixo nível de capital social, alta desigualdade entre géneros, forte sinistralidade rodoviária (apesar de fortes progressos), corrupção, baixo voluntariado e baixo empreendedorismo de perfil elevado. Esta disciplina vai no sentido de colmatar essas falhas. Mais, posso acrescentar que os conteúdos aí desenvolvidos são coincidentes com os determinantes da felicidade individual e colectiva, pois que os estudo científicos na área do bem-estar e felicidade demonstram que quanto mais participarmos na sociedade, quanto mais democracia houver, quanto menor for a discriminação entre os géneros, quanto mais consciente forem as decisões de consumo e produção, quanto maior a paz e menores os conflitos, quanto maior for a liberdade de pensar e decidir, quanto mais livres e conscientes forem as escolhas sexuais e reprodutivas, maior será a felicidade dos povos. Quem objecta a isto?

3. Finalmente, vem a parte da fraqueza. Quem objecta à Cidadania e Desenvolvimento, diz que não quer que as suas crianças sejam expostas a ideias contrárias às que querem incutir nelas. Primeiro, em sociedade (a não ser nas mais pequenas, fechadas e obscuras), nunca há um monopólio parental na inculcação de ideologias e valores. Segundo, ter medo de que a exposição a ideias diferentes vá “desviar” os seus educandos do “bom caminho” só prova como a doutrinação a que pretendem sujeitar as suas crianças é fraca. De facto, quem quer educar no sentido dos dogmas, corre sérios riscos de que a aprendizagem do pensamento crítico destrua essa possibilidade. É que ninguém escolhe o dogma se for ensinado na pluralidade, nem visões simplistas do não conhecido se for educado na ciência. É isto que mais assusta estes objectores.

Confesso a minha pena por ver um assunto destes gerar tanta fervura numa parte da sociedade portuguesa (mais envelhecida e masculina, é certo). Em todo o caso, penso que este é o caminho certo: ensinar Portugal a pensar criticamente. E caso os tribunais (que ainda são entidades muito conservadoras) viessem a chumbar a obrigatoriedade de Cidadania e Desenvolvimento, proponho, desde já, que se crie a disciplina obrigatória, desde o 1.º ano de escolaridade, de Filosofia. É que, essa, independentemente de tudo o resto, sempre devia ter existido, e é o lugar certo para se ensinar e discutir todas estas temáticas práticas dadas em Cidadania e Desenvolvimento e acrescentar a história das religiões e dos valores morais.

Gabriel Leite Mota, publicado a 4 de Setembro de 2020

Por uma produção amiga da felicidade

"Desde que Adam Smith publicou “A Riqueza das Nações” que se gerou a noção de que a ciência económica havia de ser a disciplina que nos...