Portugal encontra-se numa situação muito complicada. A uma estagnação económica que vinha de trás (muito causada por um modelo de desenvolvimento nacional desadequado e insustentável) juntou-se uma crise de liquidez espoletada pela crise financeira internacional. Na prática, o país vê-se a contas com uma equação muito difícil de resolver.
Porém, penso que este é apenas um sintoma de uma doença de que Portugal padece há séculos: a falta de amor-próprio. Já muitos historiadores, ensaístas e filósofos se debruçaram sobre este assunto mas não é fácil compreender porque é que uma nação (que até é das mais antigas do mundo) tem tanta dificuldade em gostar de si própria. Os portugueses tendem a não gostar dos outros portugueses e tendem a não gostar de Portugal. E isso tem feito com que Portugal continue, sempre, uma nação arrastada.
A nossa história não deixa grande margem para dúvida: fomos capazes de expulsar os mouros para definir as actuais fronteiras e fomos capazes de derrotar os espanhóis ao fim de 60 anos de ocupação. O resto (da nossa permanência) tem mais a ver com o só fazermos fronteira com um país e com o nunca ninguém se ter interessado por este pedaço de terra. A verdade é que explorámos mal as colónias que tivemos, nunca nos industrializámos em devido tempo (era por surtos, quando faltava o ouro, as especiarias, o comércio) e nem das forças militares cuidámos (por isso mendigámos ajuda aos ingleses quando os franceses aqui chegaram).
Depois há a questão do exemplo, da liderança. E aí, continuamos mal: que dizer de um rei que abandona a pátria (e vai, alegremente, para o Brasil) não estando disposto a morrer pela nação que era sua obrigação defender? Que dizer de elites económicas que não pensam, verdadeiramente, em Portugal e procuram favores estatais, proteccionismos, negócios fáceis e estão sempres dispostos a fugir (outra vez para o Brasil ou para outras paragens) quando as dificuldades apertam? Que dizer de um conjunto de políticos que demonstraram não ter qualquer paixão lusitana, pois que abandonam o barco assim que lhes surge uma contrariedade interna e uma oportunidade no exterior (e vão para Bruxelas, Nova Iorque, Cabo Verde…)?
O povo, enfim, é fruto da mesma árvore e lá se vai especializando no oportunismo, no desenrascanço e no tratar da sua vidinha, sem qualquer consideração por uma noção de pátria. Somos um povo que emigra muito, que pensa em sair quando tudo está difícil, pois que se sente incapaz de promover a mudança por dentro.
Políticos patrióticos suportados por um povo patriótico não tinham deixado o país chegar a este ponto de carência financeira e económica. Mas também sabiam exigir mais nas negociações que têm que ser feitas com os nossos credores. Infelizmente, o que vemos é a estratégia do emurchecer: como uma planta que perde as flores e algumas folhas para sobreviver com o pouco que um clima adverso lhe esteja a proporcionar, Portugal opta por não se reproduzir, envelhecer e emigrar, à espera de dias melhores para florescer. Outras nações já provaram que não são plantas mas animais altamente inteligentes que souberam fazer acontecer, não esperar. E nós, seremos, finalmente, capazes de nos transformar?
Gabriel Leite Mota, publicado no P3 a 31 de Outubro de 2013
No comments:
Post a Comment