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Friday, March 15, 2019

A URGÊNCIA DO ENSINO DA DIVERSIDADE E DA INCLUSÃO

No mundo actual, cada vez mais globalizado, integrado e interdependente, onde as distâncias se encurtam todos os dias graças às tecnologias de transporte e de telecomunicação, onde as migrações são cada vez mais frequentes (seja por motivos económicos, de guerra ou de turismo), é fundamental que aprendamos a viver uns com os outros, cada vez mais diversos.

Nas sociedades pequenas e fechadas do passado, era fácil instituir valores comuns, culturas e regras de comportamento que todos seguiam. Mesmo assim, os conflitos existiam e havia os que não se conformavam às regras definidas.

Hoje, as sociedades são cada vez mais abertas, densificadas e plurais. Isso torna a sua gestão mais difícil.

Quando, no mesmo espaço, têm que conviver pessoas de diferentes origens culturais e nacionais, com diferentes crenças e comportamentos, é natural surgirem atritos, desconfianças e receios. Se não estivermos habituados, e ensinados, a conviver num mundo plural, o escalar da conflitualidade torna-se inevitável.

Assim, se queremos beneficiar da globalização naquilo que ela tem de bom, ao nível da oferta material acrescida, das possibilidades de deslocalização que nos permite e da troca de conhecimentos, temos que estar guarnecidos com as ferramentas de inteligência emocional adequadas, nomeadamente o respeito pelo outro, pela diferença e pela mudança.

Significa isto que é incompatível termos uma postura conservadora e vivermos numa sociedade complexa, ligada e em constante transformação.

Muitos dos conflitos a que temos assistido no mundo, nomeadamente os diferentes ataques terroristas (seja dos extremistas conservadores da direita, seja dos fundamentalistas muçulmanos), são uma consequência paradigmática dessa falta de aprendizagem do respeito pela diferença.

Assim, é imperioso que ajamos com determinação e eficácia (e precocemente) no ensino da inclusão da diversidade.

Precisamos, desesperadamente, de planos de acção, nas escolas e na sociedade civil, que promovam a aprendizagem activa da capacidade de conviver com a diferença.

Nas crianças, sabemos bem a tendência que há para a discriminação dos desiguais. Nos adultos, é conhecido o enquistamento e agravamento desses preconceitos.

Temos que actuar precocemente, mas também em continuidade, junto dos indivíduos e das famílias, para que o valor do respeito pela dignidade humana se enraíze em todos.

Esse respeito pelo outro é, obviamente, incompatível com doutrinas religiosas fundamentalistas, com preconceitos ideológicos, partidários e comportamentais.

“Assim, se queremos beneficiar da globalização naquilo que ela tem de bom, ao nível da oferta material acrescida, das possibilidades de deslocalização que nos permite e da troca de conhecimentos, temos que estar guarnecidos com as ferramentas de inteligência emocional adequadas, nomeadamente o respeito pelo outro, pela diferença e pela mudança.”

Não podemos permitir que os homens discriminem as mulheres, que os heterossexuais discriminem os homossexuais, que a direita despreze a esquerda (ou vice-versa), que os ricos amesquinhem os pobres, que os muçulmanos diabolizem os ocidentais, que os brancos odeiem os negros, que os negros se odeiem entre si por questões étnicas, que os sunitas diabolizem os xiitas, enfim, que um sem-número de preconceitos se sobreponham à dignidade humana.

Temos que respeitar quem faz escolhas diferentes das nossas. Temos que respeitar quem se veste contra a norma, quem se comporta de forma diferente do padrão. Temos que respeitar a singularidade, a individualidade.

Isso é que é difícil. Por isso, a escola tem que ser um espaço que ensina a pluralidade, dentro do respeito pelos direitos humanos.

A escola tem que renegar os fundamentalismos de toda a espécie e tem que incutir nas crianças a ideia de que é normal ser diferente, que é normal cada um escolher o seu caminho (seja mudar de sexo, de religião, de nação, de cultura ou namorar quem quiser).

Só através desta cultura de inclusão seremos capazes de construir sociedades globais saudáveis, onde a especificidade de cada um é respeitada pelos demais, e onde se minimiza a probabilidade de surgirem bestas que querem matar (e matam) os outros só porque os outros não são iguais.

Gabriel Leite Mota, publicado no P3 a 15 de Março de 2019

Thursday, January 24, 2019

ANDRÉ VENTURA: UM HOMEM DO SISTEMA LEVADO AO COLINHO

André Ventura (AV), como qualquer populista que se preze, assenta a sua ideologia numa única coisa: dizer os soundbites que o povo quer ouvir e mais nada.

Como bom populista, se algum dia chegar ao poder, pouco fará do que promete, até porque muito do que promete é inconstitucional ou, pura e simplesmente, não resolve os problemas que afligem as pessoas que nele votarem.

Como todo o bom populista, AV só está preocupado com o seu protagonismo, o seu poder. Portugal que se lixe.

Como a maioria dos populistas que temos visto subirem ao poder, Ventura é uma celebridade da TV, mais precisamente da CMTV, onde comenta tudo e dispara as soluções supostamente fáceis, mas impraticáveis, para os problemas (alguns dos quais completamente empolados).

Ventura acumula também outra característica comum aos populistas: é um homem do sistema e do poder. AV foi militante da JSD, depois do PSD, conseguiu cargos autárquicos através desse partido do sistema e só saiu porque o PSD não lhe deu o protagonismo que ele queria.

AV sonha (desde há muito tempo) em ser primeiro-ministro de Portugal. E tem dado os passos calculados nesse sentido: juntar-se ao PSD, comentar tudo (de crime a futebol) na TV, ganhar poder autárquico e, agora, criar o seu próprio partido, Chega.

Provavelmente, vai querer ir (ou enviar alguém) para o eldorado de Bruxelas enquanto dá tempo para o Chega ganhar mais tracção (Marinho e Pinto, alguém?).

As pessoas que simpatizam com AV deveriam interrogar-se sobre o seguinte: quem deu tanto protagonismo a AV? Quem apostou nele? Quem o convidou para a CMTV e porquê? Não terá sido alguma loja ou obra, que tantos coloca nos partidos, nas televisões, nas universidades ou nos cargos de poder?

AV representa também a elite governante: é doutorado em Direito (sofrendo Portugal de uma praga de juristas no poder político), sai de um partido para formar outro, teve relações com famosas sociedades de advogados e lecciona numa universidade privada e noutra pública, por convite. Mais sistema do que isto é impossível.

Ainda assim, as pessoas vão no seu canto da sereia. Principalmente nas redes sociais, onde o contraditório é fraco e a mentira é facilmente propagada.

É fascinante ver como toda a comunicação social faz o que AV quer. Se fosse outra pessoa qualquer que tivesse fundado um partido, ninguém lhe daria tempo de antena.

Como AV já tem protagonismo mediático e sabe espicaçar audiências, aí vamos todos (mea culpa) atrás dele: uns a dizerem bem, outros a dizerem mal. No entretanto, AV segue cantando e rindo.

AV propõe a castração química de pessoas condenadas por pedofilia, ou seja, defende a castração de Carlos Cruz. Acena a bandeira da insegurança pública, quando Portugal é dos países mais seguros do mundo (apesar de quem vir os canais de notícias ficar com a sensação contrária) e do reforço do controlo de fronteiras (quando temos poucos problemas com a imigração). E cerra fileiras contra a eutanásia, para dar uma de moralista defensor da vida (mesmo impondo a infelicidade a quem não a quer), ao mesmo tempo que quer a prisão perpétua (que a experiência demonstra não resolver a criminalidade) e destruir a democracia representativa com a redução drástica do número de deputados.

Diria que a estratégia de chegada ao poder está certa: está a fazer o que tem resultado noutros países e tem bons amigos. Porque não resultaria cá?

Agora, se o Chega chega ao poder em Portugal, o país ficará muito pior do que o que está. Ai ficará, ficará.

Gabriel Leite Mota, publicado no P3 a 24 de Janeiro de 2019


Friday, January 4, 2019

TODOS OS BULLIES SÃO COBARDES

O bullying sempre existiu nas escolas, mas ganhou, nos últimos tempos, mais atenção, devido à classificação do fenómeno com termo americano. Porém, este é dos casos em que um americanismo é bem-vindo: é um problema sério, que cria infelicidade, legitima a agressão e viola os direitos humanos. Claramente, uma deseducação que não é compatível com uma instituição educativa.

Os bullies são os agressores, que exercem todo o tipo de violência sobre colegas, e são vistos como os fortes, os valentões, temidos por uns, admirados por outros. Porém, são todos uns cobardes.

Cobardes porque só atormentam e atacam os que sentem mais fracos ou vulneráveis: ora porque são diferentes (os mais inteligentes, os menos inteligentes, os deficientes, os que usam óculos, os gordos, os mais pobres numa escola de ricos, os mais ricos numa escola de pobres, os homossexuais, os doutra cor, etc.), ora porque são mais sensíveis e não ripostam perante a agressão. Os bullies nunca se metem com iguais ou com quem consideram mais fortes. É que, aí, o medinho aperta…

Na verdade, os bullies tendem a ter problemas emocionais: ou porque vivem em ambientes familiares desestruturados, seja em famílias pobre ou ricas, onde falta educação, regras e ternura, ou porque são estruturalmente maus e mal-educados, tendo aprendido que é lícito gozar, explorar, ameaçar ou bater noutros seres humanos, que consideram inferiores a eles.

Se é verdade que o problema do assédio físico e moral entre jovens nas escolas deve ser combatido numa dupla vertente: por um lado, educar as vítimas para se imporem, denunciarem e ganharem autoconfiança, por outro, tratar os bullies da sua agressividade e má educação, é na parte dos bullies que primeiro se tem que actuar – nomeadamente, ensiná-los que coragem é dominar o próprio medo, não atacar quem não se sabe defender.

As escolas não podem considerar normal que o bullying exista como parte da vida.

As crianças que são vítimas de bullying não ficam mais preparadas para a vida (como alguns mitificam), assim como os bullies também não (se não mudam os seus comportamentos, tornar-se-ão marginais ou bestas). Este tipo de agressividade e desrespeito pelo outro e pela diferença é algo que as escolas têm que combater e erradicar.

A verdade é que, infelizmente, muitas crianças nascem em seios familiares onde não existem competências parentais, sofrendo assim as consequências nefastas de serem criadas por incompetentes (a este respeito, as comissões de protecção de menores deviam ser mais eficazes e actuantes e retirar mais frequentemente as crianças dos progenitores incompetentes, independentemente da classe socioeconómica dos mesmos).

Dessas famílias incompetentes podem nascer vítimas ou agressores, mas urge combater os fazedores do mal, não sobrecarregar quem sofre com a maldade alheia.

As políticas da escola devem ser de uma vigilância constante, facilitação da denúncia dos actos de assédio físico e moral e de penalização exemplar dos agressores.

A escola é também um local de criação de cidadãos, não só de aprendizagem de conteúdos teóricos. Se as famílias falham na educação das suas crianças, não lhes ensinando que não podem maltratar os demais nem considerarem-se superiores aos outros, então compete à escola trabalhar com esses jovens, recorrendo a incentivos positivos e castigos, para que, no futuro, não se criem mais criminosos ou insuportáveis arrogantes, que tantas vezes chegam a lugares de chefia.

Os direitos humanos, o respeito pela diferença, o simples respeito pelos outros têm que ser uma das tarefas basilares de qualquer escola. Nesse sentido, a prevenção e a erradicação do bullying deve ser um objectivo central.

Gabriel Leite Mota, publicado no P3 a 4 de Janeiro de 2019

Friday, December 28, 2018

A PORNOGRAFIA DA VIOLÊNCIA EM HORÁRIO NOBRE

Entristece-me que vivamos numa sociedade em que a exibição pormenorizada e exaustiva de actos de violência, quer nos noticiários quer nos programas de ficção, seja encarada com bonomia e transmitida em horário nobre, ao mesmo tempo que a simples nudez é considerada um crime lesa moral, um atentado aos bons costumes e uma perversão.

Esta é a realidade nos média.

Se olharmos para uma telenovela, assistimos a reiterados actos de violência (verbal ou física), assassinatos e torturas, maldades de todas as formas e feitios. Por outro lado, nunca se exibe a nudez frontal, isso sim, um pecado mortal…

Curiosamente, o mesmo se aplica aos filmes de matinée, aos noticiários, aos documentários e até aos debates, onde a violência verbal (nomeadamente nos futebolísticos) atinge patamares pornográficos.

Na minha forma de ver o mundo, um corpo humano despido é, a priori, inócuo, enquanto que a violência é um instinto que convém refrear, não acicatar.

A nossa sociedade considera normal que uma criança possa assistir a combates de MMA, filmes com exibições de violência grotescas (fiquei chocado com um que passou na televisão, num domingo à tarde, chamado O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos, onde as guerras e combates eram de uma pornográfica violência explícita), notícias de acidentes com mortos e feridos, assassinatos, violências domésticas ou actos de terrorismo (nos espaços noticiosos que fazem do impulso voyeurista da violência o seu caça audiências), séries nas quais a mente e os actos dos psicopatas são o cerne da história.

Também se aceita com brandura que as crianças e os jovens estejam viciados em diferentes jogos online de violência, como o Fortnite.

Enfim, sangue, feridas, armas, esmagamento de ossos e crânios, gritos, tiros e explosões, tudo bem. Um mamilo, um pénis, uma vulva ou pêlos púbicos, o horror!

Malogradamente, esta é também a política dos novos média como o YouTube, o Instagram, o Twitter ou o Facebook, perpetuadores deste puritanismo hipócrita (mesmo que sejam obras de arte que mostrem os tais interditos).

Perverso é considerar que a exibição das “vergonhas” é necessariamente um mal (quando é através delas se perpetua o ser humano e se pode ter prazer) ao mesmo tempo que se aceita a força da violência e da raiva, que destrói a humanidade e causa a morte, como algo trivial.

Gabriel Leite Mota, publicado no P3 a 28 de Dezembro de 2018

Friday, December 21, 2018

JOÃO MIGUEL TAVARES AFINAL GOSTA DE SÓCRATES

Na crónica “Portugal em 2019: não, isto não é a aldeia do Astérix”, João Miguel Tavares (JMT) avisa os portugueses que o melhor que têm a fazer nas eleições legislativas de 2019 é votarem no PS, para que esse partido tenha maioria absoluta.

JMT diz que essa é a melhor solução para Portugal nos próximos quatros anos, uma vez que é preciso reconstruir a direita portuguesa com tempo e assegurar a estabilidade política dada pelas maiorias absolutas, face a quatro anos que JMT prevê serem turbulentos a nível europeu e mundial, com inevitáveis consequências para Portugal.

Fala ainda de querer ver o PS a governar em tempos de dificuldade, para provar que é capaz de pagar os seus créditos. Um dos receios que tem é que os populismos comecem a emergir com força em Portugal e, por isso, nada melhor do que uma maioria absoluta bloqueadora.

Não deixa de ser fascinante que alguém que se diz liberal e que enverga a capa de super-herói anti-socrático queira agora o conservadorismo do poder absoluto e, ainda por cima, nas mãos do Governo que tem tantos dos escolhidos de Sócrates.

Acontece que o argumentário de JMT é falacioso por duas razões: primeiro, porque os grandes males da nossa democracia consolidaram-se e espalharam-se com as maiorias absolutas, de Cavaco e Sócrates, onde os BPN e BES ou as PPP mais prosperaram e facilitaram as portas giratórias do roubo público para as vidas douradas no privado. Ou seja, não interessa quem é o primeiro-ministro — a política não é a vontade de um homem só , interessa se o poder é mais ou menos absoluto e, por isso, devemos temer ao máximo as maiorias absolutas; segundo, os perigos do populismo nada têm a ver com maiorias relativas e coligações (a normalidade nas democracias mais avançadas do mundo), mas sim com políticas concretas lesivas das classes médias e baixas, a corrupção, a globalização desregulada e as desigualdades crescentes. Ter uma democracia mais competitiva, com mais partidos e mais instrumentos de expressão directa da vontade dos cidadãos é o que precisamos para estancar populismos nacionais. Não o entregar de poderes absolutos aos partidos do costume.

Seria muito saudável que, em 2019, não existissem maiorias absolutas e fossem eleitos mais partidos para o Parlamento. Mesmo que isso gerasse alguma agitação parlamentar, seria uma oportunidade para aumentarmos o debate das ideias, incrementar hábitos de compromisso e negociação e captar nova gente para a política.

Uma maioria absoluta (seja de que partido for) trará perigos terríveis de perpetuação dos pântanos passados, esses sim potenciadores de possíveis cenários apocalípticos de rupturas democráticas.

Gabriel Leite Mota, publicado no p3 a 21 de Dezembro de 2018

Thursday, May 24, 2018

REAIS PAROLICES

Nos últimos tempos, temos assistido, em Portugal, a alguns exemplos de órgãos do Estado, ou entidades públicas, a terem uma atenção desmesurada para com representantes de monarquias internacionais.

Obviamente que compete ao Estado português seguir os protocolos diplomáticos e ter um tratamento adequado com todas as personalidades representantes de estados estrangeiros que nos visitem. Quanto mais não fosse, era uma questão de boa educação.

Porém, o problema surge quando da cortesia se passa à bajulação ou adoração parolas, principalmente quando estão em causa monarquias.

Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo, que é o máximo representante de Portugal, tem de se curvar ou beijar a mão, quer da Rainha de Inglaterra quer do Papa, tanto quanto essas pessoas têm de se curvar e beijar a mão dele. Isto é, ninguém tem de se curvar perante ninguém, nem beijar a mão de ninguém. Basta o respeitoso aperto de mão, ou a vénia mútua, como no Japão.

Neste país, por vezes, parece que as pessoas se esquecem de dois factos básicos da nossa Constituição — somos uma República e um Estado laico.

A RTP — falo desta porque é a televisão pública — parece esquecer-se disso com frequência.

Recentemente, transmitiu em directo o casamento de um inglês com uma americana, só porque o inglês é descendente da monarquia inglesa. O espectáculo “disneylandesco” deste casamento real em Inglaterra, assistido e comentado por cá como se fossemos a parvónia e estivéssemos a adorar a civilização, “os importantes”, enjoa-me.

Anteriormente, já tinha dado coberturas obsessivamente ridículas às visitas papais a Portugal.

Ou seja, a televisão pública não pode estar ao sabor dos interesses das monarquias, nem de nenhuma religião — por mais audiências que esses espectáculos possam gerar.

Também assim, os órgãos do Estado têm de ser contidos e equilibrados.

Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo, que é o máximo representante de Portugal, tem de se curvar ou beijar a mão, quer da Rainha de Inglaterra quer do Papa, tanto quanto essas pessoas têm de se curvar e beijar a mão dele. Isto é, ninguém tem de se curvar perante ninguém, nem beijar a mão de ninguém. Basta o respeitoso aperto de mão, ou a vénia mútua, como no Japão.

Enfim, não quero que os meus impostos sejam usados para a televisão pública fazer uma propaganda directa à monarquia, nem que os representantes de Portugal se curvem perante ninguém.

A monarquia é um anacronismo feudal e anti-humanista, que urge acabar em todo o mundo. Mas é um problema dos países monárquicos fazerem essa transição e progresso civilizacional, que nós já tivemos a dignidade de efectuar em 1910.

Por mais que as funções dos reis e rainhas de hoje sejam simbólicas, não deixam de ser um conjunto de privilegiados protegidos por um sistema de castas, incompatível com o princípio da igualdade, da liberdade e do mérito.

E pouco me interessa que tenhamos alguns países monárquicos bem funcionantes — como alguns do Norte da Europa —pois tenho a certeza de que se deixassem de ser monarquias e passassem a república, só veriam o seu bom funcionamento aumentar.

Tenho orgulho em viver numa república, onde qualquer pessoa com mais de 35 anos pode ser o representante máximo da nação, se escolhida por sufrágio directo e universal, e não numa monarquia onde só pode ser o representante da nação quem seja filho de fulaninho de tal…

Portugal foi durante a maior parte da sua existência uma monarquia. Faz parte da história, como a Inquisição, a pena de morte ou as explorações marítimas. Mas esse tempo terminou e espero que Portugal tenha pela frente uma vida ainda mais longa como república.

Nesse sentido, é preciso cultivar a cultura republicana — que muitos políticos têm desrespeitado, demonstrando-se indignos de representarem Portugal — e não efectuar a parola bajulação real.

Gabriel Leite Mota, publicado no P3 a 24 de Maio de 2018

Friday, October 23, 2015

CAVACO NUNCA MAIS!

Cavaco Silva está a despedir-se das suas funções presidenciais da pior maneira possível. Tanto tempo calado e imóvel para, agora, pôr as garras de fora, mostrando-se o que sempre foi: autoritário, despótico e com total desrespeito por aqueles que pensam diferente de si.

Monday, August 31, 2015

EMIGRAÇÃO É COISA DE PAÍS POBRE

Dado que Portugal tem assistido, nos últimos anos, a um fenómeno emigratório quase sem precedentes na sua história, o tema da emigração tem estado na ribalta mediática.

Monday, July 20, 2015

VOTO FELIZ

A principal razão da existência de democracias é o permitir às pessoas expressarem as suas preferências e vê-las representadas nas decisões políticas.

Thursday, July 9, 2015

OS AMANHÃS QUE CANTAM ULTRALIBERAIS

É encantador (e assustador) verificar como os defensores do ultraliberalismo papagueiam a sua ideologia cheia de promessas miríficas, de destinos encantados, baseando-se apenas em profissões de fé e retórica.

Monday, May 25, 2015

PARA PRECÁRIA JÁ BASTA A SAÚDE

A condição humana é simples: estamos todos condenados à morte. Uns mais cedo, outros mais tarde. Uns por acidente, outros por doença. Uns na infância e juventude, outros na vida adulta ou na velhice. Uns de morte súbita, outros de doença prolongada. Uns de morte morrida, outros de morte matada. E os que têm a sorte de não morrer cedo, ficam condenados ao lento apodrecimento do corpo, pela degradação progressiva da saúde, que está programada no nosso ADN (sim, no ser humano não há dúvidas de que temos uma obsolescência programada). E todos sabemos isto.

Thursday, March 19, 2015

PORQUE A FELICIDADE É UM ASSUNTO SÉRIO

Sobre felicidade já muito se escreveu e pensou ao longo dos tempos. Desde a Grécia antiga até à actualidade, milhões de linhas já foram escritas sobre felicidade. Dela, sabe-se que é algo que todos desejamos, mas que temos dificuldade em definir. E mesmo os pensadores que versaram sobre felicidade, também ainda não chegaram a um consenso (que nem sequer é provável que venha a existir).

Wednesday, January 21, 2015

O BOM SENSO DE RUI MOREIRA

Do bom senso se diz que toda gente está convencida que o tem em quantidades suficientes. Na realidade, o bom senso (não confundir com senso comum) é uma qualidade muito rara. E isso nota-se especialmente nos que têm responsabilidades decisórias, pois que, tantas vezes, exibem a falta dele, precisamente através das decisões que tomam. Assim, é muito difícil encontrar executivos que tenham bom senso e, por isso, devemos dar-nos por muito satisfeitos quando tal acontece.

Tuesday, January 6, 2015

"LOW COST"?

O rótulo “low cost” é um dos ícones da contemporaneidade. A expressão significa “custo baixo” e utiliza-se para caracterizar aqueles negócios que escolhem a estratégia de redução dos custos de produção ao mínimo para oferecerem os bens ou serviços a preços reduzidos. Isto é, custo baixo para o produtor e custo baixo para o comprador. Operando em grande escala, o produtor pode conseguir lucros significativos. E o consumidor fica todo satisfeito por adquirir o que quer a preços comedidos.

Thursday, December 11, 2014

A CIÊNCIA DA FELICIDADE VS. AUTOAJUDA, "COACHING" E AFINS: UMA CLARIFICAÇÃO

Apesar da temática da felicidade ter estado entregue, durante centenas de anos, a toda a gente menos aos cientistas, a viragem do séc. XX para o séc. XXI trouxe uma importante novidade: o estudo científico da felicidade.

Wednesday, June 18, 2014

O ELOGIO DAS ESQUERDAS CAVIAR

Se olharmos para a história da humanidade, conseguimos encontrar inúmeros exemplos de seres humanos de classes favorecidas que foram capazes de sair da sua redoma de origem e que lutaram pelos interesses dos desfavorecidos. Com essa atitude, ajudaram a mudanças de regime que muito contribuíram para que a humanidade tenha conseguido progredir em paz, justiça, liberdade e igualdade.

Friday, June 13, 2014

BLOCO ERRADO?

O Bloco de Esquerda é um partido político que foi criado através da junção de pequenos partidos da extrema-esquerda portuguesa (antes incompatibilizados pelos seus dogmas ideológicos) que, dos confins da sua insignificância eleitoral, decidiram juntar forças para tentarem a relevância política. E aquilo que começou timidamente, e com parcos resultados eleitorais, acabou por demonstrar ser um partido político com reais possibilidades de crescimento. Em eleições sucessivas, o BE foi ganhando eleitorado e, consequentemente, impacto mediático.

Wednesday, May 28, 2014

POBRE SEGURO

Nos sistemas democráticos do ocidente, modernos e mediáticos, o carisma dos políticos é crucial. Não estou aqui a dizer que o carisma seja sinónimo de competência ou de honestidade. Nem sequer estou a regozijar-me com tal facto. Estou apenas a constatar uma realidade: os políticos que têm menos carisma do que os seus opositores não conseguem vencer eleições.

Monday, May 26, 2014

SORRIR

Talvez o sorriso seja a expressão emocional mais marcadamente humana. Conseguimos ver expressões de medo, de raiva e até de surpresa em muitos animais. Mas nós somos os únicos em que o riso toma a sua total expressividade.
Depois, o sorriso (se não for falso ou forçado) é uma expressão de alegria, de felicidade. 

Wednesday, April 23, 2014

EMPREENDEDORISMO DE ABRIL

Há quarenta anos atrás, a 25 de Abril de 1974, consumou-se um verdadeiro e fundamental acto empreendedor. Um conjunto de capitães do exército português tomou nas suas mãos a difícil tarefa de pôr fim à ditadura que reinava em Portugal desde 1926. Fê-lo de uma forma simples, eficaz e duradoura. Sem esse acto de empreendedorismo não se sabe por quantos mais anos Portugal teria continuado a ser o país cinzento à beira-mar.

Por uma produção amiga da felicidade

"Desde que Adam Smith publicou “A Riqueza das Nações” que se gerou a noção de que a ciência económica havia de ser a disciplina que nos...