«Economia só faz sentido se proporcionar felicidade»
Há quem diga que nem podem partilhar uma frase. Mas para Gabriel Leite Mota, primeiro doutorado do País em Economia da Felicidade e investigador de pós-doutoramento na Universidade do Minho, o matrimónio entre economia e felicidade não só é possível, como desejável. Uma preocupação que tem faltado entre os governantes e que ajuda a explicar porque é que Portugal é apenas medianamente feliz.
Carla Marina Mendes | cmendes@destak.pt
Podem economia e felicidade andar juntas, ou para conseguirmos uma economia com saúde temos, forçosamente, de abdicar da felicidade?
A economia só faz sentido se for capaz de proporcionar felicidade às pessoas. Caso contrário, está-se a confundir meios (criação de riqueza) com fins (a felicidade dos povos). A verdade é que os economistas clássicos (do séc. XVIII) percebiam bem essa questão e diziam, explicitamente, que a ciência económica devia estudar a riqueza das nações mas sempre com o propósito de aumentar o bem-estar, a felicidade. Infelizmente, durante o séc. XX, a maior parte dos economistas decidiu que, para serem rigorosos e científicos, não podiam sequer falar em felicidade. Isso foi um erro crasso porque não só não conseguiram tornar a economia numa ciência mais rigorosa como deixaram de monitorizar a relação entre crescimento económico e felicidade.
Conseguiram dar pelo erro?
Só já no final do séc. XX e início do XXI é que os economistas pegaram no tema e têm conseguido obter novos e esclarecedores resultados: a riqueza consegue gerar felicidade mas vai perdendo potência à medida que somos cada vez mais ricos. Por isso, a partir de certos patamares de riqueza nacional, precisamos de calibrar as políticas públicas para que a riqueza criada seja bem utilizada e eficaz a criar felicidade.
Seria possível aplicar em Portugal o conceito de Felicidade Interna Bruta?
O conceito é originário do Butão e tem raízes budistas. Para o aplicarmos a Portugal teríamos que fazer as devidas adaptações. Mas é perfeitamente viável construir-se um indicador compósito e complexo de desenvolvimento e aplicá-lo no País. Aliás, penso que é vital que algo do género seja feito pois só medindo o que interessa (o verdadeiro progresso da felicidade) é que vamos ser capazes de saber onde estamos e o que fazer para melhorar.
Como caracterizaria Portugal em termos de felicidade?
Portugal é um país com uma felicidade mediana mas que até fica abaixo daquilo que seria expectável para o nosso nível de riqueza. Isso significa que temos muito por onde melhorar e muito para fazer para além de apostar no crescimento. Temos que combater a pobreza e a exclusão, diminuir a desigualdade na distribuição do rendimento, reforçar a aposta na melhoria das qualificações académicas da população, criar empresas competitivas e empregos qualificados, combater a corrupção e aumentar os níveis de confiança no Estado e empresas.
Defende que a felicidade pode ser um antídoto para a baixa produtividade das empresas. Como se poderiam sensibilizar para a importância de manter os funcionários motivados?
A melhor forma de sensibilizar é mostrar a evidência empírica, que abunda, em que se prova que os trabalhadores mais felizes são mais produtivos, criativos, empenhados e leais. No fundo, se conseguirmos fazer os nossos trabalhadores florescerem, os frutos que eles produzirem vão directos para a empresa.
Felicidade é um bem
Este é, segundo o investigador, um dos princípios da economia da felicidade. A felicidade é um bem «que as sociedades devem prosseguir e que é possível à ciência estudá-la, medi-la e ajudar a promovê-la».
Novas teorias
A economia da felicidade aposta, segundo Gabriel Leite Mota, «na interdisciplinaridade» e ainda na «elaboração de novas teorias sobre a forma como os agentes económicos conseguem gerar felicidade colectiva».
Relações de qualidade
Vários estudos comprovam que precisamos de ter «relações pessoais de qualidade, sentimentos de auto-realização e contributo social, para além do conforto material.
Publicado no Destak a 17 de Setembro de 2013
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