Tuesday, September 17, 2013

ENTREVISTA AO DESTAK

«Economia só faz sentido se proporcionar felicidade»

Há quem diga que nem podem partilhar uma frase. Mas para Gabriel Leite Mota, primeiro doutorado do País em Economia da Felicidade e investigador de pós-doutoramento na Universidade do Minho, o matrimónio entre economia e felicidade não só é possível, como desejável. Uma preocupação que tem faltado entre os governantes e que ajuda a explicar porque é que Portugal é apenas medianamente feliz.
Carla Marina Mendes | cmendes@destak.pt

Podem economia e felicidade andar juntas, ou para conseguirmos uma economia com saúde temos, forçosamente, de abdicar da felicidade?

A economia só faz sentido se for capaz de proporcionar felicidade às pessoas. Caso contrário, está-se a confundir meios (criação de riqueza) com fins (a felicidade dos povos). A verdade é que os economistas clássicos (do séc. XVIII) percebiam bem essa questão e diziam, explicitamente, que a ciência económica devia estudar a riqueza das nações mas sempre com o propósito de aumentar o bem-estar, a felicidade. Infelizmente, durante o séc. XX, a maior parte dos economistas decidiu que, para serem rigorosos e científicos, não podiam sequer falar em felicidade. Isso foi um erro crasso porque não só não conseguiram tornar a economia numa ciência mais rigorosa como deixaram de monitorizar a relação entre crescimento económico e felicidade.

Conseguiram dar pelo erro?

Só já no final do séc. XX e início do XXI é que os economistas pegaram no tema e têm conseguido obter novos e esclarecedores resultados: a riqueza consegue gerar felicidade mas vai perdendo potência à medida que somos cada vez mais ricos. Por isso, a partir de certos patamares de riqueza nacional, precisamos de calibrar as políticas públicas para que a riqueza criada seja bem utilizada e eficaz a criar felicidade.

Seria possível aplicar em Portugal o conceito de Felicidade Interna Bruta?

O conceito é originário do Butão e tem raízes budistas. Para o aplicarmos a Portugal teríamos que fazer as devidas adaptações. Mas é perfeitamente viável construir-se um indicador compósito e complexo de desenvolvimento e aplicá-lo no País. Aliás, penso que é vital que algo do género seja feito pois só medindo o que interessa (o verdadeiro progresso da felicidade) é que vamos ser capazes de saber onde estamos e o que fazer para melhorar.

Como caracterizaria Portugal em termos de felicidade?

Portugal é um país com uma felicidade mediana mas que até fica abaixo daquilo que seria expectável para o nosso nível de riqueza. Isso significa que temos muito por onde melhorar e muito para fazer para além de apostar no crescimento. Temos que combater a pobreza e a exclusão, diminuir a desigualdade na distribuição do rendimento, reforçar a aposta na melhoria das qualificações académicas da população, criar empresas competitivas e empregos qualificados, combater a corrupção e aumentar os níveis de confiança no Estado e empresas.

Defende que a felicidade pode ser um antídoto para a baixa produtividade das empresas. Como se poderiam sensibilizar para a importância de manter os funcionários motivados?

A melhor forma de sensibilizar é mostrar a evidência empírica, que abunda, em que se prova que os trabalhadores mais felizes são mais produtivos, criativos, empenhados e leais. No fundo, se conseguirmos fazer os nossos trabalhadores florescerem, os frutos que eles produzirem vão directos para a empresa.

Felicidade é um bem 
Este é, segundo o investigador, um dos princípios da economia da felicidade. A felicidade é um bem «que as sociedades devem prosseguir e que é possível à ciência estudá-la, medi-la e ajudar a promovê-la».

Novas teorias 
A economia da felicidade aposta, segundo Gabriel Leite Mota, «na interdisciplinaridade» e ainda na «elaboração de novas teorias sobre a forma como os agentes económicos conseguem gerar felicidade colectiva».

Relações de qualidade 
Vários estudos comprovam que precisamos de ter «relações pessoais de qualidade, sentimentos de auto-realização e contributo social, para além do conforto material.

Publicado no Destak a 17 de Setembro de 2013

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