Thursday, September 10, 2020

Hoje é apresentada a candidatura presidencial de Ana Gomes.

Depois de um período de hesitação, esta candidatura surge da necessidade do centro-esquerda ter uma representação nas presidenciais.

Em democracia, o saudável é que existam muitas possibilidades de escolha e bom debate ideológico.

No caso das eleições presidenciais em Portugal, é conhecido o histórico: o Presidente em exercício ganhou sempre que se candidatou a um segundo mandato. Essa é, aliás, uma regularidade global, dada uma certa inércia face à mudança por parte do eleitorado, e da vantagem em termos de propaganda que tem quem detém o poder.

Ainda assim, não faz sentido ignorar a eleição na lógica do “já se sabe quem ganha”.

É certo que Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) ainda não formalizou a sua recandidatura, mas ninguém acredita que não o faça.

Neste momento, temos já apresentados Marisa Matias, André Ventura e Tiago Mayan Gonçalves (esquerda, extrema-direita e liberais, respectivamente). Haverá candidato comunista e MRS representa o centrão. Faltava, então, o centro-esquerda, que é hoje ocupado por Ana Gomes.

Com esta panóplia de candidatos, muitos proclamam a inutilidade dessa diversidade (afinal, já se sabe quem ganha) e também há muitos que afirmam que abunda o populismo.

Dizem que MRS é populista porque é calculista, tenta agradar a “Gregos e Troianos” e utiliza a sua diplomacia dos afectos para se perpetuar no poder. Dizem que Ana Gomes é populista porque se foca nos temas da corrupção, evasão fiscal e na defesa de Rui Pinto (entendida como uma subversão do Estado de direito) e fá-lo desbragadamente. Dizem que Marisa Matias é populista porque se foca no feminismo e também no combate ao poder dos ricos. De Tiago Mayan Gonçalves dizem que é irrelevante e do candidato do PCP, qualquer que seja, que é sempre a mesma cassete. André Ventura, é o especialista em populismo.

Na verdade, MRS não é populista, é popular e calculista. Marisa Matias foca-se em causa relevantes e tem um discurso claro. Ana Gomes, é uma política de coragem, capaz de apontar males maiores da contemporaneidade (como os paraísos fiscais, a corrupção, a criminalidade organizada e de “colarinho branco”), com tom veemente e assertivo. Isso não é ser populista.

Populismo é prometer soluções simples para problemas complexos e bradar mentiras. O único que faz isso é André Ventura. É que não são os ciganos, nem os beneficiários do Rendimento Social de Inserção ou a agenda LGBTI+ que causam os grandes males na sociedade portuguesa. Já a corrupção, a evasão fiscal e a má gestão pública e privada geram graves consequências na nossa vida colectiva e individual. Os défices orçamentais ou os baixos salários não surgem por causa do RSI, mas sim pelas as maroscas nos bancos e pelos maus gestores que abundam em Portugal em posições de responsabilidade.

Mais, aqueles que dizem que o grande problema agora é a crise económica, o desemprego e a desigualdade, acusando Ana Gomes de não estar focada nesses tópicos, cometem um grave erro de análise: é que é por causa da corrupção, da má gestão e dos paraísos fiscais que há pobreza, desigualdade e desemprego.

As causas de Ana Gomes são cruciais, e as soluções pelas quais se bate, funcionais.

Nesta eleição presidencial, independentemente dos resultados e da provável vitória de MRS, é importante combater-se o populismo, mas com assertividade e sem medo. Ana Gomes é a pessoa certa para o fazer.

Gabriel Leite Mota, publicado no Jornal Económico a 10 de Setembro de 2020

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