Thursday, February 11, 2021

A PANDEMIA E A ARROGÂNCIA DA LIBERDADE INDIVIDUAL

A pandemia que assola o mundo desde o final de 2019 é uma novidade em termos de desafio social. Nunca na história da humanidade um fenómeno afectou, ao mesmo tempo, tanta gente, em tantos países diferentes.

No caso das nações desenvolvidas, esta é a primeira situação, em muitas décadas, a limitar grandemente a liberdade individual.

As nações desenvolvidas, desde os tempos do Iluminismo, da Revolução Industrial, da Revolução Francesa e da implantação do Liberalismo e das democracias, foram criando sucessivas gerações de pessoas crentes na liberdade individual e a usufruírem dessa mesma liberdade.

Esse usufruto da liberdade individual é um ganho civilizacional e um contribuinte fundamental para a felicidade.

Mas a existência de fenómenos como esta pandemia trazem à evidência a essência social da liberdade: de nada nos vale a liberdade se não existirem os outros, se não existir uma sociedade organizada. E não existe liberdade individual se a liberdade de uns esmagar a liberdade dos outros.

As gerações que não passaram pelas duas grandes guerras mundiais e, em muitos países, nem sequer cumpriram qualquer serviço militar ou cívico obrigatório, facilmente se esquecem que só há liberdade individual porque há uma sociedade bem funcionante, e que só há liberdade individual se se resolverem as tensões constantes entre a liberdade de uns e as liberdades dos outros, e entre as vontades individuais e as necessidades colectivas.

Muitos têm estado habituados a fazerem o que lhes apetece, submetendo-se, quanto muito, à necessidade de trabalhar para ganhar o dinheiro que lhes permite fazer o que lhes apetece.

Mas esta pandemia, causada por um vírus que se transmite de pessoa em pessoa e que se espalhou graças à liberdade de circulação de pessoas e mercadorias (a globalização), evidencia fortemente a necessidade de pormos a nossa liberdade individual em perspectiva face às necessidades colectivas.

As nações capitalistas ocidentais baseiam-se, quase exclusivamente, no primado do indivíduo e das suas vontades. Nas sociedades orientais, mesmo as capitalistas, há uma consciencialização muito maior da importância do colectivo. Não por acaso, as nações orientais estão a lidar melhor com a pandemia e a acatar muito mais disciplinadamente as ordens governamentais.

É chocante a falta de respeito pelos outros que muitos têm demonstrado nesta pandemia. Agarrados a uma concepção arrogante, e distorcida, de liberdade individual, muitos têm desafiado o uso das máscaras, o confinamento, tentado descredibilizar as vacinas e desrespeitando as limitações à liberdade de circulação ou de ajustamentos, que o combate à pandemia impõe.

Uns por egoísmo puro, outros a cavalo de teorias conspiratórias delirantes e outros, ainda, montados no seu dogmatismo e soberba intelectual (como Raquel Varela ou José Miguel Júdice) fazem o discurso demagógico contra a supressão das liberdades, como se alguém gostasse das limitações que a pandemia causa e dos estragos económicos consequentes, ou que algum governo democrático lucrasse com a imposição dessas restrições.

Vamos tendo notícias de festas ilegais, completamente desrespeitadoras do esforço colectivo de tantos no combate à pandemia, em particular daqueles que sofrem ou estão sobrecarregados no sistema de saúde.

E temos donos de restaurantes (como o dono do restaurante Lapo ) armados ao “pingarelho” a invocarem a CRP para se manterem abertos (quando está decretado o estado de emergência).

E temos o transeunte Vila Condense a passear, sem máscara, na marginal bloqueada, que filma os polícias que o abordam, para que coloque a máscara, dizendo que os polícias não têm o direito de o chatear (que tem a CRP a protegê-lo – tantas constitucionalistas que surgiram de repente…), e que ele tem o direito de os filmar porque são os contribuintes que pagam o salário dos polícias.

Tanta irresponsabilidade e desconhecimento do que é uma democracia.

Este é o tempo de aprendermos a lição de que só sobrevivemos colectivamente e que, em certos momentos mais extraordinários, temos que abdicar das nossas vontades individuais em prol da defesa do colectivo. Pode chamar-se a isso cultura cívica. Eu chamo ser-se adulto.

Quem não é capaz de andar de máscara durante um ano da sua vida (pedem-nos tão pouco), ou de restringir a sua liberdade de movimentos durante esse período, em nome da eliminação da pandemia, ainda não chegou à idade adulta. Pelo que deve ser tratado, paternalisticamente, como uma criança.

Gabriel Leite Mota, publicado no Público a 11 de Fevereiro de 2021

UM IMPOSTO PARA A MENTIRA E SENSACIONALISMO

Uma ideia muito bem estabelecida na ciência económica diz respeito à importância da intervenção estatal quando nos deparamos com problemas de externalidades.

As externalidades dizem respeito aos efeitos que ocorrem na sociedade, ou em terceiros, e que não estão reflectidos nos preços nem nas decisões individuais de mercado. Nessas situações, as quantidades produzidas e transaccionados no mercado não representam bem os efeitos sociais, nem a satisfação das pessoas.
A difusão de mentiras e a abordagem sensacionalista aos conteúdos é um caso típico de externalidades. Isto é, quer os órgãos de comunicação social tradicional, quer as redes sociais, têm como modelo de negócio captar a atenção das pessoas para os seus conteúdos, nomeadamente para a publicidade que projectam.
A partir daí, com a utilização de conhecimentos da psicologia, do marketing e através de processos de tentativa e erro, estas empresas privadas vão adaptando os seus conteúdos e os seus modelos de negócio de forma a maximizar a atenção das pessoas. Quanto mais utilizadores “agarrados” tiverem, mais são as suas possibilidades de gerar receita.

Ora, acontece que os seres humanos são muito susceptíveis à novidade e ao extraordinário. Mais, são mais sensíveis às surpresas negativas do que às surpresas positivas.

Juntando tudo isto, é natural que os conteúdos disponibilizados nestas plataformas assumam uma natureza sensacionalista e/ou mentirosa. O sensacionalismo existe ao se dar atenção desmesurada ao excepcional, ao mal, à desgraça, à violência, ao medo, ao acidente, à morte. A mentira surge porque se quer enganar as pessoas, por causa de agendas próprias, ou porque as ideias passam melhor distorcendo a realidade, nomeadamente simplificando-a.

Estas empresas, na busca do seu lucro, calibram cada vez mais os seus conteúdos para essas dimensões. Os órgãos de comunicação social, avaliando as suas audiências. As redes sociais, ajustando os seus algoritmos de forma a viciar as pessoas no seu produto.

O problema surge quando se percebe que esta interacção livre de mercado – as pessoas não são obrigadas a ver certos programas, nem a estar nas redes sociais – acaba por ter efeitos perniciosos a nível colectivo, nomeadamente criando percepções distorcidas da realidade (que geram ansiedade, inveja, raiva, medo ou depressão) e incentivando comportamentos nocivos (violência e incivilidades).

Ao nível do sensacionalismo, temos as pessoas que vêem os programas sensacionalistas a passarem a acreditar, por exemplo, que Portugal é um país extremamente violento, cheio de pedófilos ou com graus inimagináveis de corrupção, quando os dados mostram o contrário: Portugal é um dos cinco países mais seguros do mundo, tem menos pedofilia que muitos outros e tem uma corrupção menor do que a percepção que as pessoas têm.

Ao nível das redes sociais, temos a propagação de informações falsas, com factos inventados ou manipulados, que tem consequências perigosas, tanto ao nível das percepções, como dos comportamentos, com pessoas a mudarem o seu sentido de voto ou a terem determinadas atitudes sociais, como não usar máscara durante uma pandemia, porque leram nas redes sociais que as máscaras não funcionam.

O fenómeno Trump pode até ser estudado como uma experiência natural dos efeitos perniciosos da circulação de mentiras nas redes sociais e do sensacionalismo televisivo (onde ele nasceu): a eleição de um presidente inepto na democracia mais rica do mundo.

Como vivemos numa economia de mercado, não podemos ficar à espera que as empresas tenham outro comportamento que não a busca incessante do lucro. E, como as regulamentações proibicionistas costumam ser mal acatadas pelas populações e acusadas de serem censura, acredito que se deve combater este fenómeno com outras ferramentas.

Assim, e seguindo a lógica standard da economia para correcção de externalidades, aquilo que deve suceder é a imposição de incentivos negativos à divulgação das mentiras e à utilização do sensacionalismo.

Em particular, sugiro a criação de impostos para esses conteúdos.

Com isso, as empresas que gerem as plataformas de difusão terão a liberdade de escolher o que fazem: deixar circular mentiras e/ou adoptarem uma abordagem sensacionalista, mas ficarem sujeitas a altos impostos, ou fazerem uma regulação daquilo que deixam passar, livrando-se, assim, dessas cargas tributárias.

Os algoritmos, no caso das redes sociais, e os directores, no caso dos órgãos de comunicação social, conseguiriam muito facilmente fazer esse filtro.

Seja no futebol, na política, no crime ou na sociedade, o enquadramento tablóide deveria pagar imposto. Nas redes sociais, as teorias da conspiração e todas as outras mentiras que pululam, deviam ser castigadas monetariamente.

As pressões públicas que têm sido feitas sobre as empresas das redes, para controlarem alguns destes problemas, começam a dar frutos – veja-se a recente decisão do Facebook de banir do Facebook e Instagram as mentiras acerca das vacinas contra a Covid-19, e outras relacionadas com a pandemia, assim como de encerrar os grupos que propagandeiam esses mentiras.

Também o jornalismo de investigação – como a exposição que Miguel Carvalho fez das ligações dos “médicos pela verdade” ao Chega – ou de fact-checking (como o “Polígrafo”), ajudam no combate a esta poluição informativa e à eliminação de algumas teias da mentira. Mas não é suficiente. Já para não falar da inépcia das entidades reguladoras, que não têm sido capazes de
controlar este problema.

Acreditem, só no dia em que se começar a ir aos lucros destas empresas é que elas tomarão atitudes definitivas, e serão as primeiras a acabar com a selvajaria e com o lixo comunicacional.

Gabriel Leite Mota, publicado a 11 de Fevereiro de 2021




Monday, February 1, 2021

CHEGA: OS DESERDADOS DO PSD (E DO CDS)

Apesar de ter havido diversas interpretações acerca da proveniência da votação em André Ventura nas eleições presidenciais, uma análise honesta intelectualmente tem que concluir o óbvio: André Ventura colhe, essencialmente, votos no eleitorado de direita, do PSD e do CDS (como a recente sondagem da Aximage com projecção para as legislativas, cruzando com as presidenciais, mostra bem).

Muitos têm dito que isto se trata de um voto de protesto supra-ideológico. JMT aqui, fala até de meio milhão de pessoas zangadas, apelando a que a direita tradicional “tome conta deles”, uma vez que a esquerda parece ter desistido desses eleitores, por os considerar uns deploráveis.

É certo que, em política, há concorrência por eleitores, e que os partidos devem procurar captar o máximo de eleitores possíveis para as suas causas. Mas a política não é um negócio. Não é como numa empresa, em que se tenta ficar com o mercado todo, captando os consumidores dos rivais. Em política, luta-se por valores, ideologias e visões completamente diferentes da vida em sociedade. E é infantil pensar-se que se consegue converter as pessoas a ideologias opostas às que professam.

A análise objectiva dos dados mostra que não há, virtualmente, transferência de votos da esquerda para André Ventura e que quem votou em André Ventura não votará nas esquerdas, nomeadamente no PCP (ao contrário das análises precipitadas que uns se puseram a fazer dos resultados de AV no Alentejo), nas próximas legislativas.

Concordo com a interpretação de que a maioria dos votantes em AV e no Chega são pessoas zangadas. Diria mais: ressabiadas e frustradas. Mas são pessoas de direita que sentem que vivem num país governado pelo socialismo, com poucas perspectivas de vir a ser governado pela direita no curto prazo. Pessoas que ficaram raivosas com a solução da geringonça e que vêem no discurso de Ventura um óptimo canal de ressonância desse sentimento.

São, tipicamente, pessoas da pequena e média burguesia, micro e pequenos empresários e profissionais liberais, com poucas ou médias qualificações académicas, muitas vezes habitantes das periferias das grandes cidades ou do espaço rural. Pessoas arreigadas a certas tradições e hábitos, ao machismo, à homofobia, desconfiadas (nomeadamente dos brasileiros, dos africanos e dos ciganos), com desprezo pelas qualificações académicas alheias, com um foco na quantidade de trabalho, muito mais do que na sua qualidade, e com fortes ambições materiais.

Juntam-se algumas pessoas da alta burguesia, mais dogmáticas cultural e religiosamente (caça, tourada, Opus Dei, grandes proprietários rurais, etc.), que também se sentem frustradas com os progressos sociais conquistados pela esquerda e pelos impostos que têm que pagar (com argumentário próprio de quem não preza a democracia, do tipo “os meus impostos servirem para pagar abortos, nem pensar!”). Foram estas pessoas que deram o segundo lugar a AV em Cascais e no Estoril, e que estão bem descritas por Mafalda Anjos numa crónica recente na Visão.

Nem uns, nem outros, alguma vez votariam na esquerda. E não estariam tão revoltados se estivessem a ser governados pela direita, mesmo com níveis iguais de corrupção ou de qualidade dos serviços públicos (o PCP capta votos de zangados, mas de outros, daqueles que estão contra o capitalismo e que acham que a geringonça foi uma traição à revolução).

Alguma esquerda, nomeadamente a ala direita e centrista do PS, devia estar mais atenta às condições económicas de alguns (os precários, os trabalhadores indiferenciados do privado ou as populações rurais), que são prejudicados pelas liberalizações e pela diminuição do investimento nos serviços públicos. Também os sectores mais identitários da esquerda, que tratam de questões que não são prioritárias para essas pessoas, podiam mudar o foco. Mas não seriam esses cuidados extra da esquerda que fariam esmorecer os votos no Chega. Quanto muito, só garantiriam mais perpetuação do centro-esquerda no poder.

O Chega é, no seu interior e nos seus eleitores, alimentado por votantes tradicionais do PSD e do CDS que se cansaram de um discurso moderado desses partidos, que não obtiveram o destaque e o poder desejado nas suas estruturas, que culpam os políticos e o Estado pelas suas frustrações pessoais e que têm raiva da esquerda.

São pessoas que se acalmariam se o país estivesse em grande expansão económica ou se a direita governasse.

Mas a verdade é que esta reconfiguração partidária da direita, a que começamos a assistir, tem o seu quê de natural. Alguma direita, em Portugal, cosmopolitizou-se e, já não tendo grande apego ao conservadorismo religioso e cultural, segue o apelo da Iniciativa Liberal. Outra, cristalizou-se e queria que o tempo andasse para trás. Essa, sente na “fúria Chegana” o catalisador catártico para as suas frustrações. Não há como não encarar isto como um problema da direita.

E o facto é que o “choque” das presidenciais fez, finalmente, a direita tradicional acordar: no CDS, Adolfo Mesquita Nunes já se abalançou para uma candidatura à liderança do partido eleitoralmente moribundo. Rui Rio, depois de um discurso disparatado na noite eleitoral e de uma aliança nos Açores que, como se viu, reforçou o Chega, já o veio excluir das conversas sobre coligações para as autárquicas – e AV já veio chorar-se, e dizer-se vítima de bullying político por parte dos partidos do sistema...

Espero, a bem da democracia, que a direita democrática volte a trazer os eleitores perdidos para o seu seio, através de um discurso mobilizador, mas não radical. Se não o fizer, não venham, depois, dizer que a culpa é da esquerda. É que, para a esquerda, a questão não é que essas pessoas sejam deploráveis. É que, simplesmente, ela não as pode captar.


Gabriel Leite Mota, publicado no Público a 1 de Fevereiro de 2021

Thursday, January 28, 2021

COMPETÊNCIA

Se queremos políticos de excelência, então, temos todos que começar por ser de excelência. Na verdade, os portugueses têm, apenas, direito à competência que são. E, hoje, temos os políticos que merecemos.

Sempre que há um acto eleitoral, surge o discurso da incompetência dos políticos. Muitos usam os números da abstenção como ilustrativo dessa mesma incompetência e do descontentamento que, supostamente, esses abstencionistas expressam dessa forma.

Agora, que temos um partido que se arroga anti-sistema, assim como o seu líder, temos tido muitas análises que dizem que os votos aí colocados são votos de protesto. Protesto contra a incompetência e a corrupção dos políticos.

Mesmo fora dos períodos eleitorais, os portugueses gostam muito de dizer mal dos políticos e de os culparem pelo atraso do país em termos económicos, culturais ou educacionais.

Segundo essa tese, o povo português é um povo competente (até porque se “safa” bem quando emigra) que está esmagado e oprimido por uma classe política muito incompetente que castra os seus sonhos, as suas ambições e as possibilidades de concretização dessas mesmas competências.

Acontece que essa narrativa é mentirosa.

Aliás, é uma narrativa típica de um povo pouco exigente consigo próprio e incapaz de assumir as suas responsabilidades.

A verdade é que o povo português é tão, ou menos, competente que os seus políticos.

Uma análise objectiva da realidade mostra-nos o quão precária é a competência do português médio.

O português médio é pouco qualificado, é pouco letrado, tem poucas competências matemáticas e tem pouca literacia. O português médio vive mais do “desenrasque” do que com planificação.

O empresário típico português tem uma microempresa que não dá lucro ou, se dá lucro, é pouco, e não o declara para fugir aos impostos.

O português médio é machista, descrente na competência profissional das mulheres.

O português médio acredita pouco nas qualificações académicas alheias e nos jovens.

O português médio é pouco cívico, deixa os cocós dos cães no passeio, atira as beatas para o chão ou para a areia nas praias, despeja os cinzeiros do automóvel na estrada e até é capaz de atirar objectos pela janela do carro em movimento.

O português típico não puxa o autoclismo quando usa um quarto de banho público.

O português típico maltrata os bens públicos porque “o que é de todos não é de ninguém”.

O português típico nunca tem culpa de nada quando algo corre mal. A culpa é sempre dos outros, ou do Estado, ou dos políticos, ou dos patrões, ou dos funcionários, ou dos colegas, ou do outro em abstracto. É que, para o português típico, ele é competente, ele é cumpridor. Os outros portugueses é que são muito incompetentes e muito irresponsáveis.

Um profissional típico português tem competências e qualificações abaixo das médias europeias. E o mesmo se diga dos nossos gestores. Aliás, essa é uma das grandes pechas de Portugal: a fraca qualidade dos nossos gestores e empresários.

Na verdade, Portugal quase só se consegue destacar em termos internacionais a nível do futebol: os futebolistas portugueses, e mesmo agora os treinadores portugueses, são de qualidade elevada, mesmo em contexto internacional. Curiosamente, no futebol doméstico, quando um clube perde um jogo, a culpa é sempre do árbitro, ou do sistema, nunca do próprio clube.

Esta infantilização, em que as asneiras dos próprios serão sempre culpa dos “pais”, é uma característica típica dos povos latinos, como o português.

Há inquéritos curiosos em que se pergunta aos portugueses como avaliam, por exemplo, a competência de condução dos outros. Os resultados são fascinantes: em média, os portugueses consideram-se excelentes condutores, ao mesmo tempo que consideram que os outros condutores são maus. O mesmo se diga dos empresários, que se consideram competentes e esforçados, ao mesmo tempo que se dizem cercados por empresários incompetentes, em quem não se pode confiar. Ora, se cada um é muito competente, e os outros todos é que são incompetentes, então, deve ser por Portugal estar cheio de “aliens”, que são os incompetentes…

As pessoas que dizem muito mal dos políticos não fazem ideia de qual o efectivo trabalho desses políticos, as responsabilidades que têm, as pressões que sofrem e o verdadeiro rendimento que auferem. E dizer mal dos políticos é a forma mais fácil de alijar responsabilidades e aliviar a consciência. E pior, de nada fazer para resolver os problemas.

Votar num partido que se diz anti-sistema, mas que na verdade é uma espécie de agregador dos restos do pior do sistema, também nunca será a solução.

No fim do dia, os portugueses têm que perceber que a sua vida depende muito mais doutras coisas, para além do que os políticos fazem ou deixam de fazer. E mais, não faz sentido exigir-se civismo e competência aos políticos, se cada um de nós é não cívico e incompetente.

Se queremos políticos de excelência, então, temos todos que começar por ser de excelência. Na verdade, os portugueses têm, apenas, direito à competência que são. E, hoje, temos os políticos que merecemos.

É facto que os nossos políticos não são extraordinários e que há casos de corrupção e incompetência em excesso. Mas isso só mudará quando todos formos competentes o suficiente para exigirmos e fiscalizarmos a competência alheia. E não só no âmbito da política, mas na sociedade civil, na família e no trabalho.

Bem vistas as coisas, o político português não deixa de ser uma imagem, e um espelho, do típico português.

Gabriel Leite Mota, publicado no Jornal Económico a 28 de Janeiro de 2021


Monday, January 25, 2021

O INÍCIO DO ESTERTOR DO HOMO BRUTUS

A evolução social não acontece de forma linear. Antes, dá-se através de movimentos irregulares, com avanços e recuos, de magnitudes diversas. Mas é possível detectarmos algumas tendências. E é à luz desse facto que devemos analisar o poder que ainda têm muitos homens brutos. Seja na família, nas organizações ou nos Governos, mundo afora, ainda vivemos sob a égide do domínio do homem e da masculinidade tóxica, caracterizada pelo império do autoritarismo, do desrespeito pelos subordinados, da violência, da agressividade, da imposição do medo e da “lei do mais forte”.

É assim em todas as ditaduras que existem, mas é assim, também, em algumas democracias e pseudodemocracias. Infelizmente, isso é verdade na Rússia de Putin, no Brasil de Bolsonaro, na Turquia de Erdogan, na Hungria de Orbán, na China de Xi Jinping e foi assim nos EUA de Trump. São tantos os casos actuais ou recentes, que somos levados a crer que este processo está em crescimento. Mas isso é falso. O que tem vindo a acontecer (lentamente desde o início do séc. XX, aceleradamente desde o início do séc. XXI) é o início do estertor do poder da masculinidade tóxica, e os casos que temos, mesmo nas democracias, são mais “cantos de cisne” do que “cantares de galo”.

Uma análise objectiva do mundo permite perceber que, nunca como hoje, o homem bruto está ameaçado, no seu poder e na sua liberdade. Começando pela liberdade de voto estendida às mulheres, passando pela possibilidade de essas acederem à educação e ocuparem papéis de poder social, até ao advento da pílula, o processo global de emancipação feminina é muito recente na história da humanidade, mas já produziu efeitos revolucionários, como a diminuição drástica da natalidade mundial ou o empoderamento sem precedentes da mulher.

E não há aumento do poder feminino, e libertação da mulher do jugo do homem, sem perda de poder deste. O exemplo trágico de Malala, que foi baleada no rosto por Talibãs, apenas porque queria aprender, e que outras meninas pudessem aprender é, ao mesmo temo, luminoso: não só sobreviveu, como ganhou um destaque mundial que a tornaram uma força motriz da mudança, da libertação das mulheres e da destruição do homem besta.

Mais recentemente, o ódio todo que muitos expressaram contra uma adolescente sueca (Greta Thunberg) que apenas clama pelo respeito climático é, ao mesmo tempo, demonstrativo do quando ainda temos de masculinidade tóxica (tantas vezes impregnada nas próprias mulheres) mas, também, do quanto as mulheres já conseguem ter poder.

Nunca como hoje, em todo o mundo, as mulheres estão a ganhar direitos, liberdade, poder. Nunca tivemos tantas cientistas, juízas, professoras, ou vencedoras de prémios Nobel, tantas artistas, tantas governantes, nem tantas empresárias, gestoras de grandes empresas e outras instituições.

E, também, nunca tivemos tantos homens não brutos, isto é, sem masculinidade tóxica, na sociedade. Tantos homens que partilham, equitativamente, o mundo doméstico e familiar com as mulheres, que não as agridem ou que, pura e simplesmente, assumem a sua natureza emotiva e empática, sem castrações, ou a sua orientação sexual e de género. Nunca os homens meigos tiveram tanto destaque e sucesso. Nunca a força bruta foi tão dispensável e a inteligência e o conhecimento tão fulcrais.

A verdade é que, nunca como hoje, os homens brutos (e as mulheres desse sistema, nomeadamente as que gostam de viver à custa e à sombra desses homens) se sentiram ameaçados e reprimidos. Apesar de toda a violência doméstica que existe, nunca ela foi tão recriminada, denunciada e perseguida. Nunca o bullying nas escolas foi tão combatido. Nunca o assédio laboral foi tão exposto e perseguido (veja-se o movimento “me too”). E isto é um processo que só agora começou (como disse, no séc. XX).

Todos os solavancos que têm existido, e que podiam levar a crer que existe um retrocesso civilizacional, são muito nefastos, mas não são mais do que apenas lombas num caminho fortíssimo de abandono do homo brutus. E, enquanto existirem, esses homo brutus, sejam eles homens ou mulheres, vão espernear.

Os políticos que têm surgido em algumas democracias com o discurso do homo brutus, e que têm tido algum apoio eleitoral, estão a colher votos juntos dos que vêem o seu sistema de poder a ruir. De facto, um homem que bate na sua mulher sente-se frustrado se o denunciarem e prenderem por tal. Um homem, ou mulher, que só se saibam impor pela violência, na casa ou no trabalho, sobre os filhos ou colegas, respectivamente, sentem-se castrados se os proibirem de dar esses “tratamentos”.

As pessoas dogmáticas sentem-se ameaçadas quando vêem não crentes, crentes noutras teses ou desvios aos seus padrões morais (como o amor romântico entre pessoas do mesmo sexo). E essa multiplicidade de comportamentos nunca foi tão grande como agora. Nas actuais eleições presidenciais em Portugal temos, pela segunda vez na nossa história, duas mulheres candidatas. E uma vai bater o record de votação numa mulher numa eleição presidencial. E o actual Presidente é um homem de afectos, não da brutalidade ou da boçalidade.

Nos EUA, acaba de ser eleita a primeira vice-presidente da história e uma administração paritária. Biden, que escorraçou Trump, não tem masculinidade tóxica, não é um homo brutus (como Obama já não era). Por mais que a voz dos brutos ainda se faça ouvir e os seus gestos se sintam, tudo mais não são do que espasmos de raiva de quem não quer desaparecer, mas vai desaparecer. O caminho da evolução está no sentido certo. E assim vai continuar.

Gabriel Leite Mota, publicado no Público a 25 de Janeiro de 2021

Thursday, January 14, 2021

OS VOTANTES NOS POPULISTAS NÃO SÃO UNS COITADINHOS

Desde que os fenómenos populistas começaram a ter mais protagonismo político, nomeadamente com as vitórias eleitorais de Donald Trump, nos EUA, e Jair Bolsonaro, no Brasil, que se têm desmultiplicado as análises em busca das explicações para tal fenómeno. Se é certo que o populismo é uma velha estratégia eleitoral, desde a antiga Roma até à Europa do entre guerras, a capacidade que alguns políticos estão a ter para, repetindo técnicas antigas, conquistarem o poder no séc. XXI é, de facto, merecedor de reflexão.

É que, nunca como agora, as pessoas estão instruídas (academicamente) e com acesso à informação. Nunca, também, esteve o mundo tão rico ou com tantas pessoas com tanta saúde. Ainda assim, as retóricas inflamadas e demagógicas, baseadas em falsidades, mantêm o seu poder de penetração na mente de muitas pessoas, que querem promessas de soluções simples e locais para problemas complexos e globais. Mesmo antes de Trump e Bolsonaro, a Europa já lidava com os Le Pen, com Salvini (e ainda antes com Berlusconi), com Orbán, com Erdogan, com o UKIP ou com a AfD.

Enfim, a cobertura eleitoral que está a ser dada a estes populistas tem que ter uma explicação. E é na busca dessa explicação que alguns estão a cometer o mesmo delito que tentam explicar: apresentar como verdadeiras, causas erradas.

Para muitos, a origem do populismo está numa espécie de abandono a que algumas pessoas teriam sido votadas, ora pelos Estados, ora pelo funcionamento da globalização. Pessoas menos instruídas, que se estariam a tornar cada vez mais substituíveis por máquinas, ou por trabalhadores doutras paragens, que estariam a sentir-se em piores condições que os seus pais e que, por isso, estavam a “ser do contra”: votar naqueles que prometessem destruir o sistema actual e construir um admirável mundo novo, onde essas pessoas recuperassem o controlo e a esperança.

Curiosamente, este mesmo argumento pode ser usado pela direita e pela esquerda: a esquerda, culpando a globalização neoliberal; a direita, acusando o Estado de proteger uns e desproteger outros e minar a liberdade individual.

Os eleitores dos populistas não são inimputáveis (caso fossem, não poderiam votar). São adultos que, perante um enorme leque de escolhas (veja-se o número de partido políticos que existem em Portugal, e em tantos outros países, e as múltiplas e diferentes ideologias propostas), optam por votar nos demagogos boçais

Em todo o caso, os votantes nos populistas seriam os filhos enjeitados da sociedade, uns coitadinhos que se compreende que votem pela desconstrução, quais crianças birrentas.

Ora, acontece, que tal é uma desqualificação insuportável dos eleitores e das suas vontades. Dizer que os eleitores votam sem pensar direito em quem estão a votar, independentemente das suas preferências e interesses, apenas porque estão chateados com a vida, é desacreditar a democracia e infantilizar os indivíduos.

Sejamos sérios: quem vota nos populistas gosta deles, do que eles dizem, pensam e fazem. Pelo menos, gosta mais desses populistas do que de todos os outros políticos em quem podia votar. Não por acaso, as mulheres, ou os negros, votaram muito mais Biden do que Trump, enquanto que os homens brancos votaram mais em Trump do que em Biden. E muito mais pobres e discriminados votaram em Biden do que em Trump.

O voto é sempre sério, e quem dá o seu voto deve ser responsabilizado por ele.

Os incitamentos insanos que Trump fez só têm impacto porque muitos pensam como ele, muitos votaram nele.

Por cá, as alarvidades medievais e anti-humanistas que Ventura propala, só têm impacto porque há muitos que pensam como ele.

Os eleitores dos populistas não são inimputáveis (caso fossem, não poderiam votar). São adultos que, perante um enorme leque de escolhas (veja-se o número de partido políticos que existem em Portugal, e em tantos outros países, e as múltiplas e diferentes ideologias propostas), optam por votar nos demagogos boçais. Porque se identificam.

Em artigo neste jornal, António Barreto fez a caracterização dos eleitores coitadinhos: coitadinhos que o Estado é mau, cobra impostos, só protege os funcionários públicos e impede o nosso tecido empresarial de prosperar e os políticos, esses, são todos uns corruptos que só pensam em si e nos seus amigos. Que alternativa tem o povo senão votar no populismo, para que o mundo, finalmente, se concerte.

Na mesma bitola, João Miguel Tavares, diz-nos que o povo é bom e sereno, só está a votar nos populistas para fazer barulho e acordar esta cambada de políticos ordinários que só mal lhe faz. É tudo boa gente, a votar mal para criar o bem…

Não me identifico com esta postura fatalista e desculpabilizante.

As pessoas que votam nos populistas estão mais próximas do pensamento por eles verbalizado, do que de todas as outras alternativas. E sim, em Portugal, muitas dessas são machistas, racistas, homofóbicas, fundamentalistas religiosas, punitivas, violentas, ressabiadas, desrespeitadoras da ciência, más cidadãs (fogem aos impostos e abusam dos recursos públicos) e, caso tivessem poder político, melhor comportamento moral não teriam do que os que lá estão (como a realidade do Chega já comprova).

A democracia é um sistema para adultos. Para as crianças, impõe-se o paternalismo.

Em democracia, somos responsáveis pelo poder que damos aos políticos em quem votamos e co-responsáveis pelas suas acções (boas ou más).

Na verdade, o populismo só existe porque há muitas pessoas que se identificam com os valores e discursos defendidos pelos seus protagonistas. Hoje, como ontem, o populismo existe, e continuará a existir.

Não nego que as condições da sociedade e da economia influem na forma como as pessoas votam. Mas o principal problema é mesmo ao nível das percepções e da mobilização.

Quem está contra o argumentário populista tem a difícil tarefa de ser mobilizador mostrando que a realidade é complexa, e que não há soluções milagrosas. Que a globalização é, em certo sentido, irreversível (embora transformável), mas que a democracia e o humanismo são as estruturas indispensáveis a uma vida civilizada, e que as devemos consolidar, nunca abandonar.

De resto, a democracia é, também, um sistema de tentativa e erro. E os americanos (na sua maioria) já perceberam que pôr um populista no poder, no fim do dia, dá trampa.

Sejamos inteligentes, e evitemos essa estrumeira por cá.

Gabriel Leite Mota, publicado no Público a 14 de Janeiro de 2021

NAS REDES SOCIAIS COMO NA VIDA

Depois da tentativa de golpe de Estado ocorrida no dia 6 de Janeiro nos EUA, o ainda presidente Donald Trump foi banido de meios de comunicação digitais como o Twitter, Facebook, Instagram, Snapchat ou Youtube.

O argumento usado pelos gestores desses canais digitais teve a ver com a violação das políticas de utilização, nomeadamente o incitamento à violência e a difusão de mentiras, práticas reiteradas de Donald Trump nesses meios, mas que agora atingiram o seu apogeu com o incitamento à invasão do Capitólio, e posterior discurso desculpabilizante desse incidente sem precedentes na história moderna dos EUA.

Após esta proibição, levantaram-se vozes críticas, dizendo que não pode ficar ao critério dos gestores das redes sociais o que pode ou não ser dito nessas mesmas redes.

A verdade é que esta é já uma discussão antiga, relativa ao problema da força (muito consequência da estrutura oligopolista deste mercado) que as redes sociais podem ter na manipulação das percepções e comportamentos das pessoas.

Mais, discute-se porque hão-de ser as redes sociais uma espécie de realidade paralela sem lei, onde todos podem dizer tudo, mesmo o que não podem dizer noutros meios de comunicação social ou em público.

Sejamos claros: os gestores das redes sociais sempre impuseram as suas vontades e desenharam as suas leis. Nas redes sociais, que mais não são do que serviços digitais prestados por empresas privadas, com o objectivo do lucro, manda a vontade dos donos.

No Instagram, no Facebook ou no Youtube, há políticas muito claras relativas à nudez: aplicando um critério puritano altamente discutível, desde órgãos genitais até simples mamilos femininos (porque os masculinos ninguém censura) são completamente banidos, mesmo que seja a reprodução de uma pintura, de uma fotografia artística ou de uma fotografia de lazer de uma família nudista.

Nunca vi nenhuma comoção especial por tal censura à liberdade de expressão. Ao mesmo tempo, muitas imagens de violência são toleradas, e toda a espécie de discurso insultuoso vai sendo permitido.

Acho muito bem que se discutam estas políticas e que se questione o poder que estas redes têm para alimentar mentiras ou teorias da conspiração. Porém, no fim do dia, não passam de empresas privadas, com a liberdade de definirem as regras dos seus serviços.

Sou contrário às normas puritanas já referidas. Mas não defendo que as empresas tenham que mudar as suas regras ao meu gosto (o Twitter, por exemplo, já não bane a nudez).

Ao mesmo tempo, sou favorável à criação de regras de combate à violência, ao insulto e às mentiras. Mas, entretanto, só uso as redes sociais se quiser. Eu, e toda a gente.

A única coisa que está acima das políticas de utilização das redes é a lei das nações. E essa tem que se aplicar nas redes como se aplica na vida: punir a calúnia, punir o discurso de ódio, punir a propaganda nazi e fascista, punir o incitamento à violência ou ao suicídio, o bullying e toda e qualquer espécie de crimes que possam ocorrer via redes sociais, como podiam ocorrer via telefone, por exemplo.

Agora, uma rede social tem todo o direito de receber e recusar quem quiser, como o dono de um restaurante tem o direito de não aceitar quem se faça acompanhar por um cão, quem esteja bêbado ou quem esteja a perturbar a ordem do estabelecimento. Nas discotecas, por exemplo, muita gente fica alegremente em filas ao frio à espera de poder entrar e, muitas vezes, não entra. Porque não há-de ser assim numa rede social?

Já há redes de encontros para católicos, para homossexuais ou para pessoas de esquerda. Nessas redes sociais, os que não cumprem o critério inicial, não são bem-vindos. No início, o Facebook era só para estudantes de uma dada universidade.

Esta ideia peregrina de que o Twitter há-de ser o canal oficial de comunicação política é um absurdo. Os políticos, nomeadamente os que estão no poder, têm os seus canais de comunicação próprios e oficiais, não podem depender de canais de terceiros, nomeadamente das redes sociais privadas. Quanto muito, crie-se uma rede social pública (como há os órgãos públicos de comunicação social), onde os políticos tivessem livre acesso, desde que cumprissem as regras da nação.

Curiosamente, no caso de Donald Trump, ele só conseguiu ganhar a Presidência em 2016 graças à utilização maquiavélica e científica dessas redes sociais, percebendo o que tinha que dizer aos diferentes públicos e alimentando a circulação das mentiras que mais lhe conviessem, tudo com a cobertura compassiva dos gestores dessas redes, que tudo lhe foram sempre permitindo (na campanha e durante a presidência).

Costuma dizer-se que quem vive pela espada, morre pela espada. Trump, um monstro que viveu através das redes sociais, é bom que morra através delas.

No resto, não se dê demasiada importância às redes, mas fiscalizemo-las bem, para que o que não é permitido na rua também não seja permitido no mundo digital.

Gabriel Leite Mota, publicado no Jornal Económico a 14 de Janeiro de 2021




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