O único português doutorado em Economia da Felicidade acha que o bem-estar é um valor de futuro
Antes que comece a pensar que esta coisa de juntar economia e felicidade soa demasiado a auto-ajuda, pense duas vezes. Gabriel Leite Mota é um homem sério e rigoroso, mas acha que a economia se tornou tão abstracta e autista, presa nos seus cálculos matemáticos, que se esqueceu do homem. O que a economia da felicidade pretende é voltar a colocar o bem-estar das pessoas no epicentro das contas.
O que é a economia da felicidade?
É um ramo de estudo dentro da própria economia que procurou trazer uma análise económica mais rigorosa da temática da felicidade. Basicamente, procura perceber em que medida é que as variáveis económicas – desde o PIB ou o crescimento económico até coisas como a inflação ou o desemprego – se correlacionam com os indicadores de felicidade. Os indicadores que a economia da felicidade mais usa são indicadores de bem-estar subjectivo, ou seja, a resposta que as pessoas dão à pergunta “quão feliz se sente com a sua vida em geral”. Damos, por exemplo, uma escala de 0 a 10, a pessoa responde e nós conseguimos saber como é que ela se sente em termos de felicidade. A partir do momento em que temos esses dados podemos, com base nos processos estatísticos tradicionais de econometria, compará-los com as variáveis económicas mais comuns. E o que se constatou, nomeadamente no que diz respeito ao PIB per capita , ou seja, o produto de um país por pessoa, foi que quanto mais rico é um país mais felizes tendem a ser as pessoas, mas cada vez menos. Ou seja, há uma relação positiva, mas não linear. Quanto mais rico é um país mais difícil é os acréscimos de riqueza traduzirem-se em aumentos de felicidade das pessoas. Portanto, para aquelas nações que são pobres, todos os ganhos de riqueza são bons, porque são, de alguma forma, bem gastos. Nos países mais ricos, os acréscimos são cada vez menos efectivos na produção de bem-estar medido pelo sentimento das pessoas.
É aqui que entra a questão das expectativas.
As expectativas jogam um papel importante nesta questão. No que diz respeito aos bens materiais – e nós, quando estamos a falar do PIB, estamos a falar nisso mesmo, ou seja de produtos, serviços e outras coisas mensuráveis –, há fenómenos de adaptação, de comparação e de ajuste de expectativas que minam a capacidade que temos de acumular felicidade ao mesmo ritmo que acumulamos riqueza. E, portanto, quando ainda temos carência de certos bens essenciais, seja água canalizada, sistemas de esgotos, protecção do frio e das intempéries, sistemas de saúde, ensino e justiça, se estes passarem a existir, as pessoas sentem-se mais felizes. Mas, a partir do momento em que temos esses bens mais básicos, obviamente que os acréscimos de riqueza se traduzem em novas tecnologias ou em conseguir fazer coisas mais depressa, tornando muito difícil que isso se transforme em tanta felicidade como antes. Vejamos o caso da felicidade que podemos tentar tirar de um carro. Na base, o carro é um meio de transporte para ir do ponto A ao ponto B – algo que podemos fazer a pé, de bicicleta, de transportes públicos ou nesse mesmo carro. Mas há pessoas que também associam um estatuto ao carro e podem ter uma relação afectiva com o objecto. Porém, pondo a questão do ponto de vista de quem não tem carro e passa a ter, aí a pessoa sente-se mais feliz porque passa a ter mais mobilidade. Mas as sucessivas trocas de carro rapidamente se esgotam em termos de produção de bem-estar. Nos primeiros meses, as pessoas ficam todas contentes mas, depois, a partir do momento em que se habituam, deixa de ser novidade, reajustam o padrão para o carro que têm, entram em comparações com os carros dos outros e começam a sonhar com um melhor (lá está, as expectativas!). Rapidamente, a sensação de bem-estar com o novo carro passa a ser menor do que seria noutras condições.
Este processo dá-se com todos os bens materiais em geral.
Sim. Estes fenómenos são muito fortes com a maior parte dos bens materiais e é por isso que é muito difícil conseguir aumentos continuados e sustentados de bem-estar e felicidade com meras substituições de bens materiais. E mais complicado ainda é quando, para substituir os bens materiais, abdicamos de outras áreas da nossa vida como o lazer, a família, os cuidados de saúde ou a actividade física. Há um conjunto de outras áreas da nossa vida que, se abdicarmos delas em função do trabalho e de um ordenado maior, o resultado final é menos felicidade. Obviamente, isto é um problema de países ricos e não de países pobres. Os países pobres precisam de ser mais ricos e vão usar bem essa riqueza a produzir mais felicidade, a não ser que estejamos a falar de países corruptos, onde todos os acréscimos de riqueza são inúteis para a sociedade porque são apropriados por uma pequena minoria. Mas, se estivermos a falar de um país pobre, democrático, que começa a crescer, então vai melhorar em termos de felicidade.
De que países pobres está a falar?
Por exemplo, os chineses, os indianos e os brasileiros estão num processo de crescimento que lhes permitirá criar infra-estruturas e classes médias e, portanto, nos próximos 30, 40, 50 anos, vão previsivelmente aumentar os seus níveis de bem--estar e de felicidade. Outra coisa são os países ocidentais que já atingiram um patamar onde as pessoas se começam a aperceber de que o caminho traçado de criação de riqueza não está a ser tão eficaz na produção de bem-estar e felicidade. E, a meu ver, existem dois factores principais para isto estar a acontecer. Um tem a ver com a própria natureza das pessoas e é preciso reconhecê-lo, e durante muito tempo os economistas, enquanto cientistas sociais, não o reconheciam. Nós somos capazes de fazer escolhas sistematicamente erradas. É um comportamento que, para um psicólogo ou psiquiatra, pode até ser classificado de aditivo ou viciado, mas que não foi considerado na área do consumo. A verdade é que nos viciamos em consumo, em trabalho e em produção. E a palavra vício tem efectivamente a conotação negativa de que estamos a fazer mais, a consumir mais, a trabalhar mais, a produzir mais do que aquilo que seria óptimo para nós, sem sermos capazes de individualmente romper com esse ciclo – tal como os viciados em substâncias tóxicas ou em jogo, que têm muita dificuldade em romper individualmente com tal comportamento. Portanto, nós, seres humanos, somos capazes de cometer erros sistemáticos, e não é de espantar que, enquanto sociedade, estejamos num caminho que não é o melhor para nós. A partir do momento em que se reconhece isto são precisas forças de mudança, e é aí que entra o segundo factor, respeitante aos organismos que tomam decisões, sejam eles políticos ou económicos.
Organismos que têm outros interesses.
Sim. Aqui ocorre um fenómeno mais complicado. Nem sempre os interesses desses centros de decisão coincidem com os interesses da sociedade. Na maior parte das vezes, não coincidem. Os económicos, porque muito facilmente podem apropriar- -se do exagero de criação de riqueza por parte da sociedade para beneficiar uma minoria. Os políticos, mesmo sendo democráticos, porque estão presos numas teias complicadas e não são suficientemente pressionados pelos eleitores para adoptarem as medidas a favor dos interesses das pessoas. Para se transformar isto é preciso informação, permitir às pessoas alternativas e depois dar-lhes o poder de decisão. Aí, com liberdade de pensamento e de acção, as pessoas poderão definir a sua estratégia política para ser executada pelos políticos. Para que a sociedade se corrija – e muitos economistas ingleses ligados a esta área sugerem isso – são precisas medidas públicas, novas leis, novas regras que calibrem de alguma forma a própria livre iniciativa das pessoas, que, como vimos, tem levado a resultados que não são os mais desejáveis.
Qual a dimensão da economia da felicidade enquanto força de mudança?
A economia da felicidade não é a única força de mudança dentro da economia. Existem outras como a economia experimental, a economia comportamental ou a economia social, que são novas áreas de estudo que têm como característica fundamental a interdisciplinaridade, algo que a economia tradicional não aceitava – a ligação à psicologia, à neurociência, à antropologia, à sociologia ou à filosofia. Não se pode fazer boa economia se não se fizerem estas pontes. Durante muito tempo fez-se economia do ponto de vista científico, acreditando numa determinada metodologia, e os resultados estão à vista. Isso hoje está deitado por terra e, apesar das resistências institucionais de quem está no poder, a mudança é já muito forte e temos os resultados destas novas áreas da economia a ser publicados nas melhores revistas científicas e de economia e levados em consideração pelo governo britânico, pelo governo francês, pela OCDE ou pela Comissão Europeia, que procuram novos indicadores e novas medidas. O problema desta crise não é uma questão de valores, mas muito mais uma questão de regras. Os seres humanos, ao longo de todos os séculos, tiveram sempre mais ou menos o mesmo tipo de propensões, mas, enquanto sociedade, podem definir regras diferentes – permitir-se apedrejar pessoas é uma questão de regras, não tem a ver com qualquer imoralidade do ser humano; um viveu num contexto em que tal era permitido, outros seres humanos vivem noutro contexto em que já não é permitido. O que aconteceu à economia ocidental nos últimos 30 anos foi uma mudança de paradigma ao nível das regras que gerem o sistema financeiro mundial e que são a origem do mal. Sob a égide de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, as regras foram liberalizadas, à revelia do que tinha sido aprendido depois da Grande Depressão dos anos 30. Os economistas, a seguir a este período, perceberam que o sistema financeiro é propenso – por natureza, não porque as pessoas sejam más ou imorais – a bolhas especulativas e a grandes flutuações que fazem com que sejam precisas regras e travões para que esses fenómenos não ocorram. Acontece que, mais uma vez, pequenos lóbis, pequenos grupos de interesses podem beneficiar com as bolhas especulativas e as grandes oscilações, fazendo muito dinheiro em pouco tempo. Costumo usar muito a analogia do doping, porque o que se fez foi dopar a economia ao liberalizar o sistema financeiro. Ora, tal como no desporto, num determinado período temos resultados fantásticos, crédito a ser dado a toda a gente e o consumo a disparar, mas depois ciclos económicos profundíssimos, o que, do ponto de vista da sustentabilidade, do equilíbrio e da felicidade para as pessoas, é mau.
Ou seja, acha que a economia precisa urgentemente de ser regulada?
Sim. Regras para o sistema financeiro, claro, que limitem a possibilidade de bolhas especulativas, alavancagens ou a concessão do crédito. Sei que isto tem como consequência o abrandamento das taxas de crescimento, mas esse é o preço a pagar pela estabilidade. As pessoas não podem querer ter tudo na vida. Ou crescem muito e andamos aqui aos saltos, em ciclos, ou crescem mais devagar, mas de forma mais consistente. Temos de dar atenção às regras e não exclusivamente à moral. Obviamente, houve pessoas que cometeram crimes económicos, mas a origem do problema não está no facto de as pessoas serem morais ou imorais, mas nas normas, que não estão bem definidas. As normas estavam bem definidas até deixarem de o estar nos anos 80 e os resultados estão à vista. E se nada for feito porque, apesar da crise, têm sido feitas poucas coisas para regular melhor o sistema financeiro, mais crises se avizinham, até um dia entrarmos num colapso ainda mais sério.
Acha que também cabe aos governos introduzirem medidas para promover a felicidade das pessoas?
Essa questão é importante e interessante e tem várias respostas. Temos de pensar se devemos dizer aos governos para serem responsáveis pela condução da nossa felicidade. Essa é uma decisão política que os cidadãos podem tomar. Alguns autores nesta área defendem que se façam targetings de política tendo como objectivo a felicidade. E tal como em relação aos défices, a ideia é alcançar o nível de felicidade X no ano X. Mas o lado negativo desta metodologia é a possibilidade da manipulação de dados, alimentando a tendência dos governos para os forjarem. Outros defendem que devemos desenhar as regras fundamentais, por exemplo, uma constituição, para facilitar os processos de felicidade das pessoas. Ou seja, tendo por base os estudos científicos – que neste momento são aos milhares em diversas áreas da ciência e nos dão indicações fortes de como as pessoas vivem a sua felicidade e do que precisam, individual e colectivamente, para serem felizes –, tentar desenhar um enquadramento geral e institucional que favoreça a felicidade. Neste caso são os cidadãos que têm de procurar a sua felicidade, cada um à sua maneira, tendo um enquadramento institucional que os protege de alguns vícios e os liberta para essa pesquisa. Um exemplo disso é o caso dos referendos. Nos cantões suíços, onde a democracia é mais directa e existe um maior número de referendos sobre os mais variados assuntos, as pessoas são mais felizes porque podem expressar a sua opinião e sentem que têm uma voz activa na sociedade. Os governos e as instituições colectivas têm um papel na promoção da felicidade porque podem construir instituições e regras de forma adequada ou desadequada. Tradicionalmente, apenas se media o PIB, mas a partir do momento em que se começa a medir a felicidade, a sustentabilidade e uma série de outras variáveis, passamos a ter mais informação, o que nos força a uma análise cuidada e a uma redefinição das estratégias, das políticas e das instituições. O que é um país desenvolvido? Ah, é o que tem um PIB per capita mais elevado, ou seja, os EUA. Mas é um país que tem uma esperança média de vida menor que Portugal, enormes problemas de obesidade, uma taxa de aprisionamento elevadíssima, pena de morte, um sistema de saúde não universal. Portanto, assim que começamos a juntar mais fotografias ao portefólio, a imagem passa a ser diferente.
Defende que Portugal só vai ser feliz quando deixar de haver corrupção. O que quer dizer com isso?
Alguns dos resultados dos estudos sobre a felicidade, quer na psicologia quer na economia, dizem algumas coisas que até são do senso comum. E isso não tira mérito nenhum aos estudos, porque uma coisa é termos uma noção empírica sobre determinada realidade, outra coisa é conseguirmos construir conhecimento científico a partir daí. Em relação à corrupção, há estudos internacionais que demonstraram que os países com maiores níveis de corrupção são mais infelizes, assim como há estudos que mostram que entre desemprego e inflação, no que diz respeito à felicidade, é mais importante proteger o emprego, mesmo tendo mais inflação à custa disso. Por exemplo, na União Europeia, o Banco Central Europeu tem como grande princípio orientador vigiar a taxa de inflação, o que nos prejudica em termos de felicidade. Quanto à corrupção, o que disse relativamente a Portugal aplica-se a qualquer país. A corrupção intensa faz com que determinadas decisões e gastos não estejam ao serviço das pessoas, mas de uma minoria – que são os corruptos –, levando a resultados que não são os desejados. Um país como Portugal, enquanto tolerar a corrupção – que passa pelas pessoas que elegem políticos corruptos, pela fuga ao fisco e pelos sistemas judiciais, porque as leis dificultam o combate à corrupção –, muito dificilmente se conseguirá organizar numa sociedade com maiores níveis de bem-estar e até de crescimento económico.
Portugal está mal cotado em termos de felicidade? Quem são os mais felizes?
Mais mal que bem. A Dinamarca costuma aparecer como um dos países mais felizes do mundo, tal como os países nórdicos, de uma maneira geral, a Austrália e a Suíça. Um país que está muito mal classificado é o Japão, mas também não é de estranhar, uma vez que lá as pessoas morrem literalmente a trabalhar. Portugal é um país que tem qualidades ao nível do relacionamento interpessoal. Conseguimos ter boas relações de amizade, mas temos carências a vários níveis, por exemplo, no que diz respeito à meritocracia, ao funcionamento da justiça, onde os que têm uma conduta errada acabam por se safar. Diria que a qualidade institucional em Portugal é um dos grandes entraves à nossa felicidade. E isto é constatado por aquela realidade empírica de que os portugueses lá fora costumam ser exemplares. Aqui dentro é que é mais complicado, porque existe um contexto interno que não está bem construído. A isto se deve a sociedade menor que hoje temos.
Existem culturas mais propensas à felicidade do que outras? Por exemplo, temos a ideia de que os brasileiros são muito mais felizes que nós.
Aquilo que é a definição de felicidade ou aquilo que são as variáveis que mais contribuem para a felicidade em cada cultura podem ser diferentes. Existem variáveis culturais que nos podem remeter para povos que gostam mais de dinheiro e outros menos, outros mais de sol e outros menos. Há seguramente variáveis diferentes com pesos diferentes nas culturas dos povos. Agora, quando perguntamos às pessoas se se sentem felizes – e, salvo em casos patológicos, não vejo qualquer razão para mentirem –, os estudos mostram que as pessoas não dão valores arbitrários aos seus níveis de felicidade e que, por sermos todos humanos, há uma comparabilidade científica muito boa entre esses valores. Se eu digo que me sinto 7 e outra pessoa diz que se sente 8, a outra pessoa é mais feliz do que eu. Agora, aquilo de que eu e a outra pessoa precisamos para ser felizes pode ser completamente diferente. O Brasil não é um país muito feliz nos estudos internacionais. É um país com uma elevada taxa de criminalidade, dos mais desiguais do mundo no que toca à distribuição de riqueza, com uma esperança média de vida que não é por aí além, enormes taxas de analfabetismo e carências institucionais fortíssimas. Por exemplo, a Colômbia ou a Venezuela são países mais felizes que o Brasil.
Imagine que era primeiro-ministro. Que medidas adoptaria para fazer os portugueses mais felizes?
Promoveria a democracia directa, ou seja, mais referendos e outras ferramentas desse género que obrigassem as pessoas a participar e a expressar a sua opinião. Defenderia também uma aposta no ensino, não só do ponto de vista de promoção de bem-estar mas também de promoção económica. E, a juntar, uma reforma do sistema judicial, quer na simplificação legal, quer no próprio processo, que teria de ser mais célere e eficaz. Apostaria na informação e na melhoria institucional. As pessoas mais informadas votam melhor, consomem melhor, decidem melhor e organizam-se melhor e, com isso, a qualidade das instituições vai melhorar, bem como a informação. Claro que existe um conjunto de acções que as pessoas podem fazer para protestar, mas há que reconhecer o lado difícil. A pessoa vai para o seu trabalho e ao fim do dia, quando vai ao supermercado, não vai perder horas a discriminar os produtos e a olhar para os rótulos. Lá está, há coisas que não podem ser deixadas para o cidadão decidir individualmente. Mas podem votar num político que se faça representar numa instituição, numa Organização Mundial do Comércio onde se proíba, por exemplo, o dumping social e onde se possa dizer que os produtos chineses têm de pagar taxas alfandegárias, de 100% se for preciso, enquanto não respeitarem as leis laborais, as leis ambientais e as certificações de qualidade, tal como as empresas ocidentais. Isto seria positivo para os europeus, porque permitiria salvaguardar empregos, mas os preços dos produtos aumentariam um pouco. Eventualmente, alguns chineses perderiam o emprego. Certo é que as grandes corporações internacionais ganham sempre, porque dantes estavam sedeadas nos EUA e agora mudaram-se para a China, onde produzem a um décimo do preço de custo e, mesmo que vendam mais barato, a diferença é de 10 ou 20%. Portanto, a essas empresas interessa-lhes que não existam barreiras comerciais. Aos povos ocidentais, poderá interessar-lhes, caso estejam dispostos a abdicar um pouco da abundância de consumo e da barateza de alguns produtos. Mas tudo depende de jogos geopolíticos de actores políticos e é por isso que, no futuro, as pessoas têm de ter um grande sentido de responsabilidade no momento do voto.
E que conselho daria aos portugueses para melhorar a felicidade quotidiana?
Diria às pessoas para tentarem trabalhar no que gostam e fazerem um esforço racional para arranjar uma função profissional que se adeqúe às suas ambições e competências e lhes dê realização pessoal. Há pessoas que estão em empregos de que não gostam porque tem de ser, porque a família lhes disse que era o caminho certo, porque até ganham bastante dinheiro, e depois acumulam uma grande insatisfação. Outro conselho é comunicar, ou seja, encontrar um conjunto de pessoas com que possam entrar em sintonia e partilhar emoções e sentimentos. Acho que está na nossa condição genética, enquanto espécie, a necessidade gregária, e quase ninguém consegue ser feliz sozinho. E, por último – e aqui é uma questão de treino pessoal –, tentar fintar o cérebro no que diz respeito à propensão para nos agarrarmos aos problemas. Mais uma vez do ponto de vista evolucionista, estamos programados para nos agarrarmos aos problemas, porque são estes que nos ameaçam e põem em risco a nossa sobrevivência. O cérebro entra sempre em luta para lidar com os problemas e, resolvido um, vai buscar outro. Do ponto de vista racional é possível afastarmo-nos dos problemas ou, pelo menos, tentar que não nos consumam tanto, através do desporto ou da gestão da informação. Portanto, temos de viver no equilíbrio de perceber que a realidade existe e que é difícil e, ao mesmo tempo, aceitar que a felicidade é possível.
Entrevista Publicada no Jornali a 22 de Março de 2012
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