Todos nós temos, é sabido, a capacidade para sermos bons e para sermos maus. Isto é, para fazermos coisas boas ou coisas más (aos outros e a nós próprios). E ninguém é absolutamente mau nem absolutamente bom. A nossa vida é isso mesmo, uma sucessão de momentos, mais felizes ou infelizes, em que vamos tomando decisões, que tanto podem acrescentar bondade como maldade ao mundo.
Todos nós temos episódios nas nossas vidas em que fomos catalisadores do mal – porque iniciámos discussões espúrias, porque provocámos os demais (por actos ou palavras), ou porque ignorámos ou passámos por cima do nosso semelhante… Muitas vezes, é certo, essas acções não foram deliberadas, planeadas, nem tinham uma verdadeira intenção maléfica. Mas não deixaram de causar dano e de, eventualmente, potenciar outros males.
Por outro lado, todos nos lembramos de situações em que fomos bons, fomos eficazes, e contribuímos para a felicidade dos outros, ao mesmo tempo que nos sentíamos bem – quando ajudámos um amigo, quando auxiliámos um desconhecido, quando fomos simpáticos para quem nos servia, quando agradecemos a quem nos ajudou ou quando sorrimos para quem gostamos.
Tudo isto faz parte da vida, mas temos que ter em atenção o efeito multiplicador destas acções: é que umas e outras têm essa grande característica da auto-replicação, gerando círculos virtuosos ou viciosos de bondade ou maldade, respectivamente. E pior, por especial perversidade, as más acções tendem a replicar-se com mais rapidez e intensidade, originado verdadeiras espirais de violência (a Ted Talk de Philip Zimbardo é especialmente reveladora.
Pensar nisto é útil porque nos pode ajudar a ponderar melhor as nossas acções e perceber que delas também depende o resto do mundo. Cada um de nós é uma mera partícula entre milhões mas como cada uma das nossas acções pode ter este efeito catalisador sobre as acções dos outros, a nossa acção não é desprezível. E está bem de ver que à nossa acção se podem juntar as acções dos demais e, assim, encetarem-se verdadeiras transformações do mundo!
Nada do que disse necessita de utopias nem lirismos. Trata-se de um problema muito concreto e comezinho: está ao alcance de todos nós, todos os dias, o podermos contribuir com algo, fazer alguma coisa para que o mundo seja um lugar melhor. E esta é uma verdadeira boa notícia: podemos treinar para sermos melhores pessoas (e com isso ajudar a que outros também o sejam).
Os pais que tivemos, a educação de que disfrutámos, o conforto material que usufruímos ou ambiente que nos rodeia, tudo influencia o nosso processo de escolha e condiciona o rumo da nossa vida. Mas não devemos esquecer nunca o momento em que temos que decidir: não estamos condenados a sermos maus!
Os estudos da felicidade já mostraram bem o quanto as acções virtuosas contribuem para a nossa felicidade e para a felicidade dos outros e quanto os pensamentos e as acções negativas nos consomem ao mesmo tempo que corroem o mundo.
Os nossos lados solar e lunar existem e sempre existirão. Ao longo da vida, seguramente, iremos utilizar ambos. Mas da próxima vez que tomarem uma decisão pensem nisto, e lembrem-se de que todos temos o poder de fazer deste nosso, um mundo melhor!
Gabriel Leite Mota, publicado no P3 a 24 de Julho de 2013
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