António Costa está a apresentar um conjunto de propostas políticas para Portugal tendo em vista o XX congresso do PS e a sua possível eleição como primeiro-ministro. Nestas propostas está a reposição dos salários da função pública e foi notícia a prudência de Costa quanto à definição do momento dessa reposição. Não me parece relevante discutir os detalhes desse calendário. É que o crucial para Portugal é a mudança do rumo das políticas que nos têm governado. Só assim será possível a revitalização do emprego, o reanimar da economia e a mudança das instituições. Aliás, a austeridade que nos foi imposta, pela ‘troika' e pelo Governo, apenas foi eficaz no sentido de mostrar que sabíamos obedecer. De resto, aumentou o desemprego, a pobreza e a emigração, estagnou o crescimento, diminuiu o consumo e o investimento e não recapacitou o Estado nem combateu a corrupção. E nem sequer baixou a dívida. Enfim, foi um poço de ineficácias.
Um governante que esteja verdadeiramente preocupado com o bem-estar dos portugueses já sabe que esta austeridade não é solução. Aquilo que é decisivo para o bem-estar das populações (os estudos da Economia da Felicidade comprovam-no bem) é o emprego, a boa governança, o capital social e a diminuição da pobreza e das desigualdades.
Costa, se quiser marcar a diferença face ao passado, terá que ser capaz de implementar políticas inteligentes focadas nestes pontos essenciais, ao mesmo tempo que lida com as restrições europeias e internacionais. É esta difícil, mas possível, equação que Costa vai ter que resolver se quiser ser um primeiro-ministro de alternativa.
Ou seja, o que verdadeiramente interessa está muito a montante dos detalhes do calendário da reposição dos salários na função pública (que serão repostos por imposição do tribunal constitucional). E é com esse "a montante" que todos nos devemos preocupar.
Gabriel Leite Mota, publicado no Diário Económico a 18 de Novembro de 2014
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