Tuesday, April 7, 2015

AS ALTERNATIVAS DA DÍVIDA

As avaliações das agências de ‘rating' que mantêm a dívida soberana portuguesa no "lixo" têm sido interpretadas como sentenças: enquanto a notação não melhorar, estamos condenados.

De facto, a ordem económica mundial deu a estas agências (que já provaram a sua incompetência na crise do ‘subprime') um papel muito relevante, que condiciona a vida das empresas, nações e indivíduos.

Porém, pensar que a sua existência e poder são irrevogáveis é pueril. É que as agências de notação têm a importância que lhes quisermos dar e as suas orientações só valem se quisermos perpetuar as actuais regras do "jogo" mundial.

Acontece que estas regras foram catalisadoras da nossa desgraça: a dívida que Portugal acumulou não seria a mesma sem a crise financeira (Portugal não teria que ter salvo bancos falidos nem veria os juros da dívida disparar por causa do pânico nos mercados) ou sem o euro (os juros baixos potenciaram o acumular de dívida); o fraco desempenho económico de Portugal no séc. XXI (similar ao de outros países da UE) é muito consequência das regras da globalização, da desregulação financeira, da evasão fiscal e da arquitectura da zona euro.

Ou seja, o problema da dívida acaba por depender mais dos problemas macro (globais) do que dos micro (locais). Por isso, a discussão deve ser posta ao nível das alternativas macro: 1. Portugal tornar-se supercompetitivo, ainda que subjugado aos ditames da ordem mundial (muito difícil para um país pequeno, aberto e atrasado); 2. aliar-se a outros "camaradas de condição" e promover mudanças na ordem europeia e mundial (difícil mas viável); 3. desalinhar-se, saindo do euro e da UE, e efectuar um reposicionamento geoeconómico (o que implica fortes custos no curto prazo mas pode até ser benéfico a médio prazo).

Acredito que a segunda alternativa seja a que tem maiores possibilidades de sucesso a médio prazo. 

No entretanto, devemos pugnar para que as agências de notação sejam remetidas à subalternidade que merecem.

Gabriel Leite Mota, publicado no Diário Económico a 7 de Abril de 2015

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