Quando se discutem temas como este, está-se, no fundo, a discutir que tipo de capitalismo preferimos. É aqui que se separam as águas entre sociais-democratas, conservadores e liberais.
Os liberais, porque acreditam no conto infantil do super-herói “mercados”, que no final tudo resolve, não podem temer a espanholização da banca nacional, pois esta não é mais do que o ajuste do mercado ao maior poder financeiro dos espanhóis (dos angolanos ou chineses seria igual) sobre os portugueses.
Um conservador, que tem valores que considera superiores ao mercado (como a preservação da língua, independência ou tradição portuguesas), pode ver nesta “ofensiva” espanhola um perigo de “filipização” 2.0.
Para um social-democrata, o verdadeiramente importante é a democracia e o bem-estar, o que implica que o povo português continue a controlar o fundamental da sociedade e da economia. Por isso, é crucial que o sector financeiro (independentemente dos detentores do capital) esteja sob o jugo democrático, para que o poder político contrabalance o financeiro.
Finalmente, há os que só pensam nos seus interesses pontuais e que preferem defender quem lhes paga mais: esses mudarão de opinião consoante o capital que os sustenta.
Para quem acredita (como eu) que o mais importante é a felicidade dos povos, a verdadeira social-democracia tem provado ser o melhor sistema. Neste caso, deixem os espanhóis entrar, desde que se garanta que a palavra decisiva sobre o sistema financeiro nacional seja, sempre, de todos os portugueses.
Gabriel Leite Mota, publicado no Diário Económico a 1 de Abril de 2016