As relações (em sentido abrangente) entre Angola e Portugal não me parecem ameaçadas: estamos ligados pela língua, pela história e pela economia.
Perguntar se as relações entre Angola e Portugal estão em perigo é uma pergunta mal especificada. Para que a pergunta faça verdadeiro sentido, precisamos de definir que tipo de relações estão em causa e o que entendemos por “Angola”.
É que as relações podem ser de natureza muito diversa: comerciais, financeiras, de fluxos migratórios, de intercâmbio cultural, ao nível das parcerias institucionais ou de colaborações políticas e sociais.
Ao mesmo tempo, por “Angola” podemos entender o povo angolano, o Governo angolano ou ainda as elites económico-financeiras de Angola.
Cada um destes tipos de relações, e de entidades, são influenciadas de forma muito diversa pelos episódios que vão ocorrendo entre Angola e Portugal, entre portugueses e angolanos.
O caso hodierno, das dificuldades na negociação entre Isabel dos Santos e o BPI, parece-me que tem implicações mais limitadas a esse negócio em concreto (e, portanto, circunstanciais) do que um impacto estrutural. Trata-se de uma investidora angolana que está a encontrar problemas negociais com investidores portugueses e espanhóis, no quadro de uma operação financeira que tem que respeitar normas da União Europeia. Não são as relações entre as nações de Portugal e Angola que estão em jogo.
Uma outra situação recente, a da prisão de jovens angolanos opositores ao Governo de Angola e as declarações do Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal a esse respeito, geram outro tipo de implicações, mais ao nível da diplomacia política.
Ou seja, as relações (em sentido abrangente) entre Angola e Portugal não me parecem ameaçadas: estamos ligados pela língua, pela história e pela economia. Episódios suceder-se-ão. Mas o mais certo é isto: quanto mais florescente estiver Angola economicamente, mais se estreitarão as relações económicas; quanto mais ocidentalizada estiver Angola (do ponto de vista social, económico e do funcionamento da democracia) mais será possível estreitar as relações políticas, culturais, de cooperação social, e também as económicas.
Gabriel Leite Mota, publicado no Diário Económico a 21 de Abril de 2016