A forma como tem sido governada a globalização – em particular a circulação de bens e capitais – tem feito com que se olhe para os países, basicamente, da mesma forma que se olha para uma empresa cotada em bolsa: É competitivo? Tem baixo risco de crédito? É uma boa aposta de investimento?
Esta forma de olhar começa a estar tão enraizada que nem se dá conta da desvirtuação fundamental que acarreta: é que uma nação não é uma empresa!
É claro que é importante perceber até que ponto um país é atractivo para o investimento estrangeiro. Mas esse nunca pode ser o fim último de uma nação. O fim último de uma nação é a felicidade dos seus cidadãos. Tornar um país atractivo para os investidores terá sempre que ser, apenas, uma ferramenta ao serviço dessa felicidade. O problema é que, com a actual globalização, os países passam a ter que ser o que os investidores quiserem, sob pena de serem ostracizados, sofrendo graves danos financeiros e sociais.
A gestão política desta questão é complexa. Quem tiver as prioridades calibradas, sabe que tem que desenhar políticas que aumentem a felicidade dos cidadãos. Mas sabe, também, que precisa de não hostilizar as agências de ‘rating’, os grandes investidores internacionais ou a força das grandes potências mundiais.
Isto é principalmente verdade para uma nação pequena e aberta como Portugal, mas será interessante ver o que sucederá no Reino Unido pós ‘Brexit’, pois que, apesar de ser uma grande economia, também está enredada nesta teia de interdependências mundiais. Penso que o que Portugal deve fazer é desencadear políticas que, ao mesmo tempo, o tornem atractivo para os “mercados” e façam aumentar o bem-estar dos portugueses.
Simplificar a burocracia, a lei e a justiça, nunca desistir da formação da população – e tudo fazer para que ela não emigre –, combater a corrupção e promover o aumento do rendimento mediano são políticas que cumprem o duplo propósito acima descrito, as verdadeiras reformas estruturais necessárias. Discutir o curto prazo sem ter estas linhas de rumo definidas é, manifestamente, irrisório.
Gabriel Leite Mota, publicado no Diário Económico a 8 de Julho de 2016