A palavra excelência é uma espécie de mantra dos tempos modernos. Usada em diversos contextos, desde os políticos aos empresariais, passando pelos educativos, enfatiza a importância de sermos, individual e colectivamente, magníficos em tudo aquilo que fazemos.
Para além de ter uma base moral (diferentes religiões e filosofias têm a busca da excelência entre os seus imperativos), o tentar ser o melhor possível, e o tentar ser o melhor entre os melhores, é frequentemente justificado pela competitividade que hoje governa o mundo.
Dizem que, para sobrevivermos e prosperarmos neste mundo globalizado e concorrencial, temos que ter padrões de gestão de excelência, temos que ter uma excelente ética de trabalho, temos que ter excelência educativa (para fomentarmos a produtividade e a inovação), enfim, temos que ser excelentes em tudo o que fazemos.
Acontece que o critério de excelência não é estático, antes vai evoluindo à medida que novos patamares de performance são obtidos. À medida que vamos conseguindo fazer mais coisas, de forma mais rápida e mais eficiente, à medida que vamos conseguindo aprender mais, assim vai mudando o critério de excelência.
Na prática, a busca da excelência é uma demanda infindável e relativa, em que haverá sempre os excelentes e os outros que o não são, e onde o que hoje era excelente deixa de o ser amanhã.
Compreendendo a natureza dessa via, importa perguntar: valerá pena?
Só consigo responder afirmativamente à questão se, no fim do dia (e durante o dia) estivermos a contribuir para a felicidade individual e colectiva. Porém, a realidade tem-nos demonstrado que a busca incessante pela riqueza material (para a qual o critério da excelência tem estado calibrado) não tem sido muito eficaz na produção de felicidade.
Isto porque a excelência na gestão, no trabalho, na produção ou na educação muitas vezes tem impedido a excelência nas relações familiares ou de amizade e tem deteriorado o tempo de lazer, a saúde mental e o capital social, invertendo a ordem de prioridades do que realmente importa na vida.
Tudo isto acontece porque a sociedade tem confundido meios com fins. O valor maior da existência é a felicidade e é em nome dela que tudo tem que ser calibrado.
Perseguir a excelência só faz sentido ser for a felicidade o nosso graal. E, ao contrário do que acontece nas dimensões materiais, a felicidade tem limites naturais, pelo que todos podemos conseguir, ao mesmo tempo, atingir o patamar da excelência.
Gabriel Leite Mota, publicado no Jornal Económico a 2 de Fevereiro de 2017