Ao contrário do que tem acontecido em muitos outros países europeus (veja-se a vizinha Espanha), Portugal tem mantido a sua estrutura partidária quase inalterada, desde que se tornou uma democracia.
As excepções foram o PRD, que teve uma significativa representação parlamentar mas que acabou por não se sustentar, e o BE, que juntou diversos partidos da extrema-esquerda (alguns que já tinham tido representação parlamentar como a UDP) e que se tem conseguido sustentar, mas com fortes oscilações nos votos e ainda praticamente inexistente a nível municipal.
Fora isso, e não exaustivamente, tivemos/temos os epifenómenos PSN (Partido Solidariedade Nacional) de Manuel Sérgio, o PDR (Partido Democrático Republicano) de António Marinho e Pinto, o Livre de Rui Tavares ou o PAN (Pessoas, Animais, Natureza).
Agora, estão a surgir novos partidos, essencialmente à direita (com aspirações liberais), desde a Iniciativa Liberal, passando pela Democracia21 (em fase de recolha de assinaturas) até à Aliança de Pedro Santana Lopes.
Parece-me saudável que exista em Portugal renovação partidária, pois é também da concorrência aberta e plural entre partidos que se consegue construir uma democracia mais forte e transparente. Porém, o fundamental são as pessoas. E o que é vital é que, com os velhos ou com os novos partidos, entre nova gente. Portugal precisa, urgentemente, de novas pessoas na acção política, seja local ou nacional, que rompam com certos vícios e certos poder instalados.
Para que os maus hábitos enraizados na democracia portuguesa se rompam, necessitamos de gente que não venha da política, das associações de estudantes ou das juventudes partidárias. Precisamos de gente independente que não esteja já subjugada às estruturas dominantes da nossa democracia.
É preciso integrar gente sem experiência política, de diversas áreas profissionais (é um absurdo a representatividade dos advogados e juristas nas nossas assembleias) e sem ligações pessoais ou familiares às teias partidárias ou aos grupos discretos e secretos que vão controlando o país.
Infelizmente, estes novos partidos não parecem cumprir esse desiderato: os novos da direita estão cheios de gente com ligações/cumplicidades com o PSD, o CDS, o PPM ou a Igreja Católica; o Livre e o PDR são partidos de um homem só; o PAN é monotemático.
Quanto aos partidos instalados, têm demonstrado demasiada resistência em recrutar verdadeiros independentes, que sejam capazes de promover mudanças.
Em todo o caso, com a abstenção sistematicamente na casa do 40%/50%, em linguagem de gestão, dir-se-ia que existe meio mercado por servir, espaço mais do que suficiente para que entrantes o capturem, apesar da força dos incumbentes. Mas o eleitorado não é parvo, e só se entusiasmará com um novo partido se ele trouxer nova gente, novos processos, novas ideias e mais transparência.
Gabriel Leite Mota, publicado no Jornal Económica a 30 Agosto de 2018