Têm sido notícia, nos últimos tempos, as diversas nomeações para cargos políticos de familiares do Governo. Dada a forma sequencial como estas nomeações têm ocorrido, cada nomeação adicional torna-se mais saliente e contestável.
Thursday, March 28, 2019
Friday, March 15, 2019
A URGÊNCIA DO ENSINO DA DIVERSIDADE E DA INCLUSÃO
No mundo actual, cada vez mais globalizado, integrado e interdependente, onde as distâncias se encurtam todos os dias graças às tecnologias de transporte e de telecomunicação, onde as migrações são cada vez mais frequentes (seja por motivos económicos, de guerra ou de turismo), é fundamental que aprendamos a viver uns com os outros, cada vez mais diversos.
Nas sociedades pequenas e fechadas do passado, era fácil instituir valores comuns, culturas e regras de comportamento que todos seguiam. Mesmo assim, os conflitos existiam e havia os que não se conformavam às regras definidas.
Hoje, as sociedades são cada vez mais abertas, densificadas e plurais. Isso torna a sua gestão mais difícil.
Quando, no mesmo espaço, têm que conviver pessoas de diferentes origens culturais e nacionais, com diferentes crenças e comportamentos, é natural surgirem atritos, desconfianças e receios. Se não estivermos habituados, e ensinados, a conviver num mundo plural, o escalar da conflitualidade torna-se inevitável.
Assim, se queremos beneficiar da globalização naquilo que ela tem de bom, ao nível da oferta material acrescida, das possibilidades de deslocalização que nos permite e da troca de conhecimentos, temos que estar guarnecidos com as ferramentas de inteligência emocional adequadas, nomeadamente o respeito pelo outro, pela diferença e pela mudança.
Significa isto que é incompatível termos uma postura conservadora e vivermos numa sociedade complexa, ligada e em constante transformação.
Muitos dos conflitos a que temos assistido no mundo, nomeadamente os diferentes ataques terroristas (seja dos extremistas conservadores da direita, seja dos fundamentalistas muçulmanos), são uma consequência paradigmática dessa falta de aprendizagem do respeito pela diferença.
Assim, é imperioso que ajamos com determinação e eficácia (e precocemente) no ensino da inclusão da diversidade.
Precisamos, desesperadamente, de planos de acção, nas escolas e na sociedade civil, que promovam a aprendizagem activa da capacidade de conviver com a diferença.
Nas crianças, sabemos bem a tendência que há para a discriminação dos desiguais. Nos adultos, é conhecido o enquistamento e agravamento desses preconceitos.
Temos que actuar precocemente, mas também em continuidade, junto dos indivíduos e das famílias, para que o valor do respeito pela dignidade humana se enraíze em todos.
Esse respeito pelo outro é, obviamente, incompatível com doutrinas religiosas fundamentalistas, com preconceitos ideológicos, partidários e comportamentais.
“Assim, se queremos beneficiar da globalização naquilo que ela tem de bom, ao nível da oferta material acrescida, das possibilidades de deslocalização que nos permite e da troca de conhecimentos, temos que estar guarnecidos com as ferramentas de inteligência emocional adequadas, nomeadamente o respeito pelo outro, pela diferença e pela mudança.”
Não podemos permitir que os homens discriminem as mulheres, que os heterossexuais discriminem os homossexuais, que a direita despreze a esquerda (ou vice-versa), que os ricos amesquinhem os pobres, que os muçulmanos diabolizem os ocidentais, que os brancos odeiem os negros, que os negros se odeiem entre si por questões étnicas, que os sunitas diabolizem os xiitas, enfim, que um sem-número de preconceitos se sobreponham à dignidade humana.
Temos que respeitar quem faz escolhas diferentes das nossas. Temos que respeitar quem se veste contra a norma, quem se comporta de forma diferente do padrão. Temos que respeitar a singularidade, a individualidade.
Isso é que é difícil. Por isso, a escola tem que ser um espaço que ensina a pluralidade, dentro do respeito pelos direitos humanos.
A escola tem que renegar os fundamentalismos de toda a espécie e tem que incutir nas crianças a ideia de que é normal ser diferente, que é normal cada um escolher o seu caminho (seja mudar de sexo, de religião, de nação, de cultura ou namorar quem quiser).
Só através desta cultura de inclusão seremos capazes de construir sociedades globais saudáveis, onde a especificidade de cada um é respeitada pelos demais, e onde se minimiza a probabilidade de surgirem bestas que querem matar (e matam) os outros só porque os outros não são iguais.
Gabriel Leite Mota, publicado no P3 a 15 de Março de 2019
Thursday, March 14, 2019
É A FELICIDADE, ESTÚPIDOS!
A frase “ist the economy, stupid!” ficou famosa depois de ter sido usada na campanha presidencial de Bill Clinton contra George H. W. Bush. A ideia era que, no momento da votação, os eleitores dariam ao estado da economia um peso fundamental na determinação do seu sentido de voto.
Thursday, February 28, 2019
ESTADO E EMPRESAS: O TAMANHO IMPORTA
Um dos debates centrais da política contemporânea nos países desenvolvidos, nomeadamente nos europeus, diz respeito à dimensão/peso do Estado.
Thursday, February 14, 2019
O BOM E O MAU LIBERALISMO
O liberalismo, corrente de pensamento que surgiu entre os séc. XVIII e XIX, tinha uma clara base progressista.
Preocupados com a liberdade das pessoas, constrangida que era pelos regimes de monarquia absoluta vigentes e pelo feudalismo que impunha estratificações sociais castradoras, os pensadores liberais, e seus seguidores, lutavam para que cada indivíduo pudesse ter mais espaço de escolha e acção.
Thursday, January 31, 2019
GESTÃO DE QUALIDADE, PRECISA-SE!
Uma das grandes pechas de Portugal é a qualidade da gestão das suas organizações. O problema é tão vasto que essa falta de qualidade é notada tanto no sector público como no sector privado. Sim, ao contrário do que muitos pensam, esta não é uma falha intrínseca ao sector público. No sector privado encontramos inúmeras empresas mal geridas e que vão sobrevivendo (desde micro a grandes empresas).
Thursday, January 24, 2019
A DEMOCRACIA NÃO PODE DEPENDER DE SANTOS
Vivemos tempos complexos para as democracias: desde políticos corruptos a incompetentes, passando pela falta de capacidade de acção sobre matérias decisivas para o bem-estar (como a regulação da globalização, que foge ao controlo das democracias nacionais), somando-se a desinformação que viraliza nas redes sociais, hoje é cada vez mais difícil ao cidadão comum acreditar nos políticos, fazer escolhas partidárias conscientes e aceitar a democracia como sendo o melhor sistema político possível.
Porém, e isso devia ser ensinado nas escolas desde cedo às crianças, todas as alternativas são piores. Isto é, quanto mais caminharmos para sistemas autocráticos, de decisão individual e pouco escrutinada, mesmo que na mão de pseudo-salvadores das pátrias, pior estaremos. Quer a história do séc. XX, quer os exemplos actuais de sociedades não democráticas, ou pseudo-democráticas, demonstram bem como esses sistemas são muito piores do que as democracias ocidentais.
Assim, temos é que apostar no aprofundamento dos sistemas democráticos actuais, aumentando a transparência na tomada de decisões, a penalização da gestão danosa dos bens públicos, o aumento da rotatividade nos cargos públicos (através da limitação de mandatos em todos os cargos políticos e de gestão pública), e a criação de regras que empurrem os agentes políticos para o bom caminho.
São as regras, não apenas a bondade das pessoas, que nos podem valer para termos um melhor funcionamento das democracias e da gestão pública (o mesmo se pode dizer do funcionamento dos mercados ou das organizações). Obviamente que tudo é mais fácil, e funciona melhor, se os actores políticos e os gestores públicos forem bem-intencionados e honestos. Mas haverá sempre aquele que não o é.
É impossível que o sistema democrático os consiga filtrar todos à partida. Assim, tem é que ser capaz de os filtrar durante. Ou seja, enquanto exercem cargos políticos ou públicos, os indivíduos desonestos, cobardes, incompetentes ou corruptos têm que ser detectados, afastados e punidos. E mais, todo o sistema deve estar construído com base em regras inteligentes que não favoreçam a incompetência ou a corrupção. Isso não passa apenas por molduras penais pesadas para crimes desse tipo, passa, primeiro, por tornar tão difícil, arriscada e não proveitosa a corrupção que os próprios agentes decidem não enveredar por aí.
Exemplo: se exigirmos a um dirigente governativo (desde ministros a presidentes de câmara) uma total transparência bancária durante x anos, desde que iniciou as suas funções, muito dificilmente ele aceitará subornos. Obviamente que tal eliminação da privacidade financeira deve ser compensada. Aos políticos deve-se pagar mais, mas ser muito mais duro na sua fiscalização.
Aqueles que forem incompetentes e desonestos, e que queiram usar a política para fins meramente pessoais, sentir-se-ão dissuadidos a entrarem nestas funções. Por seu turno, os que gostarem da causa pública e se pautarem por comportamentos sérios, não temerão essa transparência. Se pensarmos nos ganhos públicos de termos gente competente e honesta a gerir o Estado, em vez de corruptos desonestos, seguramente que se pouparia muito dinheiro, mesmo aumentando substancialmente as remunerações dos dirigentes políticos.
A caça às bruxas que hoje em dia se faz aos agentes políticos, indo atrás de todas as falhas em que incorrem (mesmo as pequenas) e metendo tudo dentro do mesmo saco (desde aquele que marcou uma falsa presença, ao que contratou o primo por ajuste directo, até àquele que roubou 10 milhões), favorece a conclusão de que os políticos são todos iguais.
Essa é uma atitude errada, falsificadora da realidade e perigosa. Leva ao engano e favorece o aparecimento dos líderes messiânicos (como Bruno de Carvalho, Donald Trump, Jair Bolsonaro, Nicolas Maduro, entre outros) que chegam ao poder apenas vendendo um discurso de honestidade e salvação do povo, para nada ou pouco cumprirem depois. Mais grave ainda, essas soluções messiânicas tendem a ser mais autocráticas, logo mais corruptas, ineficientes, menos transparentes e a atraírem os piores.
O que a política precisa é de boas regras. Com boas regras, os melhores apareceram e os piores tenderão a desaparecer. Isso faz-se com mais democracia, não com menos. Faz-se com mais debate informado, com mais acesso à informação verdadeira, com a obrigatoriedade de uma maior participação e escrutínio cívico de todos e com um sistema jurídico claro e eficiente. Não erremos o caminho.
Gabriel Leite Mota, publicado no Público a 24 de Janeiro de 2019
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