Tuesday, November 27, 2012

OLHA O PAÍS FRESQUINHO

Imagine-se num mercado hipotético onde se transaccionavam licenças de nacionalidade de todos os países do mundo. Quem comprasse uma licença, basicamente, estava a adquirir o direito de viver como o cidadão mediano do respectivo país. Imagine-se como comprador. 

Que informação pedia ao vendedor? Contentava-se em saber o que, em média (por pessoa), se produzia em cada país? Não lhe interessava saber a dimensão do país? A sua diversidade biológica e paisagística? A densidade populacional? A qualidade das relações interpessoais que se estabelecem no país? O nível de bem-estar, segurança e confiança que cada individuo sente nesse país? A quantidade e a qualidade de anos de vida que poderá usufruir? Como estava distribuída a riqueza? Como era o acesso à cultura ou à educação? Que tipo de profissões lá poderia exercer? Acredito que tudo isto (e ainda mais) lhe interessasse saber antes de comprar a licença.

Afinal, a recolha de informação é algo que todos nós fazemos quando queremos comprar algo importante (como uma casa ou um carro). E o que será mais importante do que o país onde se vive, o país onde crescemos e trabalhamos? Na realidade, é certo, não existe tal mercado, nem sequer podemos escolher o país onde nascemos e crescemos (já podemos ter mais liberdade quanto ao país onde trabalhamos e onde queremos morrer…). Mas o problema mantém-se: se queremos classificar um país, chamar-lhe desenvolvido, estabelecer comparações e definir "rankings" internacionais, é redutor (para não dizer estúpido) focarmo-nos apenas na produção anual por pessoa (o famigerado PIB per capita). 

O facto é que economistas, estatísticos, políticos e demais intervenientes mediáticos tradicionalmente exibiram um enviesamento das suas análises no sentido do PIB ser o grande indicador de desenvolvimento de uma nação. É certo que sempre houve quem discutisse isso (de economistas e políticos a agentes de organismos internacionais) e propusesse alternativas (o Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas é um exemplo paradigmático). Mas os cínicos foram sempre vencendo: “Porque o PIB, apesar de imperfeito, é o mais objectivo, consensual e útil dos indicadores de desenvolvimento internacional”… 

Felizmente, agora, começa-se a perceber que o PIB, para além de incompleto (não capta muito do que é importante no desenvolvimento de uma nação), também padece de subjectividades (a própria decisão sobre o que deve o PIB medir é alvo de discussão). Por isso, cada vez menos se dá ouvidos aos cínicos e se começam a ouvir aqueles que propõem alternativas que, apesar de também imperfeitas, são significativos passos em frente. Hoje até já se percebe que a felicidade (o que as pessoas sentem) tem que ser tomada em consideração na caracterização do desenvolvimento e do bem-estar de uma nação. 

Como alguém já disse, para melhor muda-se sempre. E perceber que já há indicadores muito melhores que o PIB é, hoje, elementar. Mudemos, então! 

Gabriel Leite Mota, publicado no P3 a 27 de Novembro de 2012

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