Friday, March 20, 2015

DORES DE CRESCIMENTO

Uma sociedade é uma aglomeração de entidades viventes. Como tal, é ela própria uma entidade viva. Por isso, está em constante mutação. E dessas mutações sociais, nasce de tudo um pouco: desde lentas metamorfoses até bruscas revoluções.

O que se estar a passar no Brasil, com as recentes manifestações populares (que se somam a outras dum passado ainda recente) não é mais do que um sintoma de uma saudável transformação social. Estas manifestações são dores do crescimento social e da tomada de consciência. 

O Brasil é um país pobre em desenvolvimento. Um dos países mais desiguais do mundo mas onde as políticas do Partido dos Trabalhadores (PT) de combate à pobreza (dos últimos 12 anos) produziram efeitos. Ao tirarem da pobreza absoluta milhões de pessoas, deram azo a que se encetassem processos naturais de transformação social, nomeadamente o surgimento de novas classes médias. Acontece que estas classes médias tornaram-se mais exigentes do que outrora foram os miseráveis.

É que já não se trata tanto dum problema de gente sem terra e sem nada (que ainda existe) mas de pessoas que querem que o Brasil deixe de ser o país do samba, carnaval, futebol, favela e corrução para se tronar, finalmente, num país desenvolvido, onde a educação, a saúde, a justiça e o crescimento sustentável sejam o fundamento.

Estas novas gentes estão conscientes dos enormes custos da má governança e da corrupção (ao nível do crescimento económico, da iniquidades e da felicidade). E vêm para a rua em protesto contra a presidente Dilma e o próprio PT, pois sentem que ainda há muito por fazer.

No momento em que o Brasil atravessa dificuldades económicas, os brasileiros exigem que a mudança não cesse e sentem que a corrupção é o cancro social a abater. E pouco lhes interessa quem está no poder. 

Ao PT, resta apenas tentar reinventar-se para conseguir responder a este novo Brasil.

Gabriel Leite Mota, publicado no Diário Económico a 20 de Março de 2015

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