Thursday, March 19, 2015

PORQUE A FELICIDADE É UM ASSUNTO SÉRIO

Sobre felicidade já muito se escreveu e pensou ao longo dos tempos. Desde a Grécia antiga até à actualidade, milhões de linhas já foram escritas sobre felicidade. Dela, sabe-se que é algo que todos desejamos, mas que temos dificuldade em definir. E mesmo os pensadores que versaram sobre felicidade, também ainda não chegaram a um consenso (que nem sequer é provável que venha a existir).

A verdade é que foram, sobretudo, os filósofos e os escritores quem, ao longo dos tempos, mais se dedicou a tentar perceber o que é, e como se alcança, a felicidade. Pelo meio, misturam-se os religiosos, os místicos ou mesmo alguns políticos. Mais recentemente, os gurus da auto-ajuda.

Porém, felicidade não tem que ser um assunto apenas filosófico, muito menos místico ou etéreo. Pode (e deve) ser algo de muito concreto e pragmático. Afinal, não há ninguém que rejeite a possibilidade de ser feliz e, por isso, é preciso reflectir seriamente sobre o assunto para que a busca da felicidade siga a direcção correcta.

É nesse sentido que, recentemente, surgiu a ciência da felicidade, que mais não é do que o estudo científico da problemática da felicidade.

Através destes estudos multidisciplinares (medicina, neurologia, biologia, economia, sociologia, psicologia, etc.) faz-se luz racional sobre um tema antes apenas analisado segundo a óptica da retórica ou da opinião.

Hoje, já conseguimos perceber como fica o cérebro de uma pessoa feliz, o que caracteriza uma mente feliz e que políticas devem ser implementadas para se gerar felicidade nos indivíduos e nas sociedades.

Hoje, já se sabe que existem fortes correlações entre a sensação de felicidade e a saúde e a longevidade (pessoas felizes tendem a ser mais saudáveis e pessoas saudáveis tendem a ser mais felizes), entre a felicidade e a produtividade e a criatividade ou ainda entre a felicidade e a empatia e os comportamentos prós-sociais. Ou seja, a felicidade é valiosa intrinsecamente mas também instrumentalmente.

Do ponto de vista da economia, já se compreendeu que o crescimento económico tem rendimentos marginais decrescentes na produção de felicidade, o que obriga a que as políticas públicas apostem na qualidade das instituições, na justiça, na sustentabilidade, na democracia, na efectiva igualdade de oportunidades, na saúde e na educação, no equilíbrio entre lazer e trabalho ou no cultivo da qualidade das relações interpessoais (bens relacionais e capital social), atributos que não brotam automaticamente do aumento da riqueza ou rendimento nacionais.

Por isso, percebe-se que temos que olhar para muito mais do que o PIB se quisermos aferir do desenvolvimento e do bem-estar das nações (que é o que verdadeiramente importa).

No fim do dia, temos que perceber (e muitas instituições já o perceberam, sendo o dia mundial da felicidade, e o respectivo relatório que a O.N.U. produz a este propósito, um exemplo paradigmático) que, provavelmente, não há nada mais sério do que a felicidade (o verdadeiro fim da existência humana). Logo, é a ela que deve ser dada a máxima prioridade (na ciência, na política e na vida pública e individual) e devotado o maior respeito e consideração.

Gabriel Leite Mota, publicado no P3 a 19 de Março de 2015

Por uma produção amiga da felicidade

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