O facto de o desemprego ter subido 0,2 pontos percentuais no primeiro trimestre de 2016, dificilmente pode ser interpretado economicamente como uma tendência de aumento do desemprego, por duas razões:
1. estamos a falar de uma variação muito pequena;
2. a taxa de desemprego homóloga, face a 2015, é inferior em 1,3 pontos percentuais.
Quanto muito, podemos dizer que não é fácil recuperar o emprego que reverta as taxas de desemprego historicamente elevadas que nos têm afligido nos últimos anos. Perante isso, uma ideia sai reforçada: todos os esforços são poucos no combate ao desemprego.
A crise financeira mundial de 2007/2008 arrastou Portugal para a penúria financeira, o que, aliado a uma estrutura económica cronicamente débil, gerou a emigração e o desemprego maciços que têm sido causa da nossa infelicidade e da destruição do nosso potencial de futuro.
Por isso, a política nacional tem que priorizar o combate ao desemprego, pois essa é a forma mais eficiente de diminuir a emigração, aumentar a natalidade, melhorar as contas públicas e sustentar o bem-estar dos portugueses.
Para esse combate, precisamos dos sectores público e privado: o privado, criando empresas competitivas internacionalmente que empreguem recursos humanos qualificados; o sector público, apostando no ensino, na saúde, na justiça e na modernização administrativa, para o que precisa de empregar jovens qualificados, podendo ainda criar “empregos de último recurso” para desempregados de longa duração (pouco qualificados ou mais envelhecidos), como advogam os economistas pós-Keynesianos, pois nada é pior do que desperdiçar o potencial humano.
Porém, as regras desequilibradas do euro condicionam, em muito, as possibilidades de recuperação de Portugal e seus congéneres em crise. Sem uma mudança nessas regras, o mais provável é a continuação da letargia económica, que, enquanto existir democracia, irá conduzir a mudanças profundas nos governos europeus que, ou chegam a novos entendimentos, ou precipitarão a destruição do euro.
Gabriel Leite Mota, publicado no Diário Económico a 13 de Maio de 2015