Monday, June 13, 2016

INTERESSE PÚBLICO?

A recente reformulação no modelo de gestão da Caixa Geral de Depósitos – que passa pelo aumento do número de administradores e por uma reestruturação na política de vencimentos – tem gerado controvérsia.

Uns criticam, dizendo que passam a existir administradores a mais, que os não executivos estão a ser escolhidos em função da sua pertença ao bloco central de interesses, e não em nome de um verdadeiro contributo para o bom funcionamento do banco, e que deixa de existir o tecto salarial para os administradores (em função do vencimento do primeiro-ministro), tudo isto num momento em que o Estado tem que recapitalizar fortemente a Caixa Geral de Depósitos (CGD).

Outros defendem esta solução, argumentando que o tecto salarial que existia era teórico (na prática, os administradores podiam optar, e optavam, por receberem o que recebiam nas suas funções anteriores no privado), que 19 administradores são menos que aqueles que existem nos bancos privados portugueses (que até são de muito menor dimensão), que a nova política salarial corrige distorções da anterior (em que vogais ganhavam mais do que um vice-presidente), ao mesmo tempo que consegue ser competitiva no mercado (para, supostamente, captar os melhores gestores).

No meio disto tudo, a questão fundamental fica por responder: como garantir que a CGD, sendo um banco público, não se reja pelas regras do mercado – do maior lucro – mas pelas regras do interesse público?

É que, para que a CGD cumpra esse desiderato, todo o modelo de gestão tem que ser desenhado em função disso: 1. contratando administradores verdadeiramente comprometidos com o interesse da maioria dos portugueses (e não com o interesse de clientelas partidárias ou económicas); 2. criando regras de transparência e de fiscalização, que permitam aos portugueses saberem o que o banco faz e porque o faz; 3. dando poderes à CGD de regulador do mercado, forçando os demais bancos a seguirem as suas ofertas mais favoráveis para o cliente comum.

Se o modelo de gestão não for assim desenhado, ter mais (e pagar mais aos) administradores não trará benefícios nenhuns para os portugueses. Antes agravará o sentimento de injustiça num país tão desigual, onde o que ganham os administradores das grandes empresas (públicas ou privadas), por mais que o mercado assim o dite, é imoral. 

Gabriel Leite Mota, publicado no Diário Económico a 13 de Junho de 2016

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