Portugal padece de três problemas sérios, corrosivos da sua performance económica e da sua felicidade: baixa produtividade, elevada desigualdade na distribuição da riqueza e dos rendimentos (entre trabalhadores e entre o factor trabalho e o capital), e carências e envelhecimento em certas actividades.
Estes três problemas estão interligados e têm múltiplas causas.
O facto de estarem interligados permite que se explore a criação de círculos virtuosos de mudança, do género: rejuvenescimento – melhor redistribuição – aumento da produtividade – aumento dos rendimentos – mais para se distribuir – facilitada a contratação de novos quadros – rejuvenescimento. O contrário disto é ficarmos presos a círculos viciosos de pobreza, em que a falta de produtividade e rendimentos é usada como desculpa para não contratar e para exaurir os recursos em uso, o que impede o rejuvenescimento, mina a inovação e obsta ao aumento da produtividade.
O ter múltiplas causas significa que pode ser combatido de diversas formas.
Porém, a aposta numa melhor distribuição do trabalho será, porventura, a política mais eficaz e eficiente no ataque destes problemas em simultâneo.
Comparativamente com outras nações mais desenvolvidas, em Portugal trabalham-se horas a mais (em média), produz-se de menos, redistribui-se mal e deixamos envelhecer os quadros de pessoal, relegando os mais jovens para a precariedade ou desemprego. Assim, forçar as actividades económicas a efectuarem uma redistribuição das cargas laborais e dos rendimentos, será uma política inteligente.
No tempo desta legislatura, podia-se começar já pela eliminação da desigualdade entre o sector público e o privado, fixando as 35 horas para todos, e pelo combate às horas extraordinárias.
Portugal devia fazer esta aposta, à semelhança do que está a acontecer em certos países e empresas (como no Japão, na Nova Zelândia, na Suécia, na Microsoft ou na Perpetual Guardian), que estão a fazer experiências de redução do horário laboral e estão a obter óptimos resultados ao nível da produtividade, da redução do absentismo e do bem-estar dos trabalhadores.
Fazer com que os que já têm trabalho a tempo inteiro passem a trabalhar menos horas vai obrigar a contratar mais gente, aliviando os primeiros e evitando os seus esgotamentos, que se estão a tornar uma autêntica pandemia. Ao mesmo tempo, está-se a captar novas pessoas, com novas ideias e mais dinâmica. Se conjugarmos o menor cansaço dos mais velhos com a energia dos mais novos, o resultado só poderá ser um aumento da produtividade.
Com isso, consegue-se também uma diminuição da desigualdade, uma vez que precários viram efectivos, horas extraordinárias viram normais (pagas aos novos), e pode conseguir-se uma mais justa distribuição entre salários e lucros.
Sectores como a educação, a investigação e a saúde têm quadros envelhecidos, entraves à inovação e, muitas vezes, faltas de pessoal. Também no mundo empresarial sente-se a falta de novos empresários, capazes de apostar no emprego sólido de alto valor.
Apostar-se em novas contratações por força da redução do horário laboral (mesmo que à custa de promoções que fiquem paradas, de forma a não se subirem muito os custos) é uma medida urgente, justa (nomeadamente intergerações) e promotora de inovação e produtividade. E esses aumentos na produtividade e na justiça terão o efeito último desejado: um aumento na felicidade.
Gabriel Leite Mota, publicado no Jornal Económico a 7 de Novembro de 2019