Tempos estranhos são estes em que uma lapalissada como a que exibo em título torna-se cada vez mais necessária repetir e proclamar.
Thursday, January 17, 2019
Friday, January 4, 2019
TODOS OS BULLIES SÃO COBARDES
O bullying sempre existiu nas escolas, mas ganhou, nos últimos tempos, mais atenção, devido à classificação do fenómeno com termo americano. Porém, este é dos casos em que um americanismo é bem-vindo: é um problema sério, que cria infelicidade, legitima a agressão e viola os direitos humanos. Claramente, uma deseducação que não é compatível com uma instituição educativa.
Os bullies são os agressores, que exercem todo o tipo de violência sobre colegas, e são vistos como os fortes, os valentões, temidos por uns, admirados por outros. Porém, são todos uns cobardes.
Cobardes porque só atormentam e atacam os que sentem mais fracos ou vulneráveis: ora porque são diferentes (os mais inteligentes, os menos inteligentes, os deficientes, os que usam óculos, os gordos, os mais pobres numa escola de ricos, os mais ricos numa escola de pobres, os homossexuais, os doutra cor, etc.), ora porque são mais sensíveis e não ripostam perante a agressão. Os bullies nunca se metem com iguais ou com quem consideram mais fortes. É que, aí, o medinho aperta…
Na verdade, os bullies tendem a ter problemas emocionais: ou porque vivem em ambientes familiares desestruturados, seja em famílias pobre ou ricas, onde falta educação, regras e ternura, ou porque são estruturalmente maus e mal-educados, tendo aprendido que é lícito gozar, explorar, ameaçar ou bater noutros seres humanos, que consideram inferiores a eles.
Se é verdade que o problema do assédio físico e moral entre jovens nas escolas deve ser combatido numa dupla vertente: por um lado, educar as vítimas para se imporem, denunciarem e ganharem autoconfiança, por outro, tratar os bullies da sua agressividade e má educação, é na parte dos bullies que primeiro se tem que actuar – nomeadamente, ensiná-los que coragem é dominar o próprio medo, não atacar quem não se sabe defender.
As escolas não podem considerar normal que o bullying exista como parte da vida.
As crianças que são vítimas de bullying não ficam mais preparadas para a vida (como alguns mitificam), assim como os bullies também não (se não mudam os seus comportamentos, tornar-se-ão marginais ou bestas). Este tipo de agressividade e desrespeito pelo outro e pela diferença é algo que as escolas têm que combater e erradicar.
A verdade é que, infelizmente, muitas crianças nascem em seios familiares onde não existem competências parentais, sofrendo assim as consequências nefastas de serem criadas por incompetentes (a este respeito, as comissões de protecção de menores deviam ser mais eficazes e actuantes e retirar mais frequentemente as crianças dos progenitores incompetentes, independentemente da classe socioeconómica dos mesmos).
Dessas famílias incompetentes podem nascer vítimas ou agressores, mas urge combater os fazedores do mal, não sobrecarregar quem sofre com a maldade alheia.
As políticas da escola devem ser de uma vigilância constante, facilitação da denúncia dos actos de assédio físico e moral e de penalização exemplar dos agressores.
A escola é também um local de criação de cidadãos, não só de aprendizagem de conteúdos teóricos. Se as famílias falham na educação das suas crianças, não lhes ensinando que não podem maltratar os demais nem considerarem-se superiores aos outros, então compete à escola trabalhar com esses jovens, recorrendo a incentivos positivos e castigos, para que, no futuro, não se criem mais criminosos ou insuportáveis arrogantes, que tantas vezes chegam a lugares de chefia.
Os direitos humanos, o respeito pela diferença, o simples respeito pelos outros têm que ser uma das tarefas basilares de qualquer escola. Nesse sentido, a prevenção e a erradicação do bullying deve ser um objectivo central.
Gabriel Leite Mota, publicado no P3 a 4 de Janeiro de 2019
Thursday, January 3, 2019
2019 E O FUTURO: IDEIAS PARA UM PORTUGAL MAIS FELIZ
No passado mês de Dezembro realizou-se o primeiro webinar do ManifestoX dedicado ao tema da felicidade, intitulado “Ideias para um Portugal mais feliz”.
Coube-me a dupla tarefa de coordenação e participação no debate que contou com os contributos de Catarina Rivero (Psicóloga Clínica), Jorge Humberto Dias (Filósofo), Kieza Santos (activista da felicidade) e Vasco Gaspar (formador nas áreas de mindfulness e human flourishing) tendo havido ainda espaço para comentários online.
Este webinar teve o intuito de trazer para o cerne da política a questão da felicidade, que, afinal, é só o mais desejado dos fins da humanidade, mas que tem sido sistematicamente marginalizado pela política.
Ao longo do debate, que pode ser visto aqui, conseguiu-se passar da teoria à prática, sem unanimismos, mas com respostas realistas para o problema de tornar Portugal um sítio mais feliz (nos rankings internacionais de felicidade ocupamos lugares modestos, logo, temos muito por onde melhorar).
Na discussão ficou claro que a felicidade é plural, complexa, subjectiva, mas que há instrumentos que podemos utilizar para fazer as pessoas e a sociedade mais felizes.
Os mais de 30 anos de investigação científica que leva o estudo da felicidade permitem-nos chegar a conclusões sólidas e objectivas, que não dependem dos “achismos” políticos ou ideológicos.
Na Economia, sabemos que o crescimento económico não basta para aumentar a felicidade. Antes, é a qualidade desse crescimento que importa: o aumento do emprego, a redução das desigualdades, o combate à pobreza e o desincentivo ao consumismo e ao consumo conspícuo é que verdadeiramente podem fazer as sociedades mais felizes. Algo básico que os economistas ortodoxos teimam em esquecer-se: o crescimento económico não é um fim, é apenas um meio para a felicidade, que tantas vezes falha nesse propósito. Por isso, as políticas económicas têm que ser redesenhadas.
Mais, a qualidade da democracia, a confiança nas instituições e nos outros (nos desconhecidos), a diminuição da corrupção e a confiança nos políticos, a descentralização e o aumento da democraticidade ou a transparência na tomada das decisões políticas, são fortes determinantes do bem-estar de uma nação.
Pensando nas dimensões mais individuais, a prevenção das doenças mentais, o aumento dos cuidados psicológicos no SNS, ou o ensino da higiene emocional nas crianças, são óptimos caminhos para se gerarem pessoas mais resilientes e felizes.
Como pano de fundo, surgiu sempre o tempo, a variável mais escassa das nossas vidas, que precisa de ser gerida com cuidado, bem repartida entre trabalho, lazer, família, amigos e sono.
Da reflexão produzida durante o webinar e do cruzamento dos conhecimentos dos participantes, fomos capazes de adiantar as seguintes medidas para um Portugal mais feliz:
Criação de um Conselho Nacional de Felicidade, um Plano Nacional da Felicidade, um Observatório da Felicidade ou até um Ministério da Felicidade como instituições que teriam como função pensar, acompanhar e avaliar a implementação de políticas para a felicidade; criar a disciplina de felicidade em diferentes graus de ensino; ensinar a higiene emocional na criança, nomeadamente através de práticas de meditação; promover o mérito, a competência e a justiça nas organizações (onde, afinal, passamos grande parte das nossas vidas); combater as desigualdades, a pobreza e o desemprego (fortes geradores de infelicidade); utilizar o nudging como contrapeso à pressão do marketing empresarial (tão patente na publicidade ou na gestão das redes sociais); criar dinâmicas de discussão dentro dos sistemas, para promover a auto-aprendizagem, a auto compreensão e a capacidade de transformação, integrando e responsabilizando todos os intervenientes no sistema (ex. escolas); criar esquemas de avaliação que premeiem a cooperação, não só a competição; estudar a possibilidade das 35 horas de trabalho para todos como forma de promover um bom balanço família-lazer-trabalho e uma parentalidade saudável; aumentar a transparência e a responsabilização dos políticos.
No fim do dia, temos que entender que a felicidade não é totalmente aleatória ou pré-determinada – trabalha-se e constrói-se e há uma dialéctica constante entre o social e o individual, entre o macro (regras sociais), o meso (realidade das organizações) e o micro (a vida de cada um). Mais, não pensar na felicidade é deixar que outros determinem os supostos caminhos para se lá chegar.
O que temos que fazer é entender a felicidade como causa e consequência da democracia. Por isso precisamos de toda a gente para trazer este debate para o centro da nossa vida colectiva. Esperamos pelos vossos contributos.
O ManifestoX é um movimento da sociedade civil que visa a criação de políticas com o objectivo de, num prazo de dez anos, transformar Portugal no melhor país do mundo para se viver.
O ManifestoX surgiu da iniciativa de Pedro Duarte através de uma carta de princípios e convite a pessoas de diferentes áreas profissionais e de pensamento, visando captar para o debate político cidadãos que tipicamente ficam à margem, por não estarem integrados nas engrenagens partidárias.
A natureza deste manifesto reside na colaboração e na participação alargadas, tentando trazer o máximo de contributos possíveis para essa reflexão difícil e ambiciosa, mas que se quer concreta e concretizável. Será produzido um documento com propostas políticas, sumário dessas reflexões.
Gabriel Leite Mota, publicado no Jornal Público a 3 de Janeiro de 2019
Friday, December 28, 2018
A PORNOGRAFIA DA VIOLÊNCIA EM HORÁRIO NOBRE
Entristece-me que vivamos numa sociedade em que a exibição pormenorizada e exaustiva de actos de violência, quer nos noticiários quer nos programas de ficção, seja encarada com bonomia e transmitida em horário nobre, ao mesmo tempo que a simples nudez é considerada um crime lesa moral, um atentado aos bons costumes e uma perversão.
Esta é a realidade nos média.
Se olharmos para uma telenovela, assistimos a reiterados actos de violência (verbal ou física), assassinatos e torturas, maldades de todas as formas e feitios. Por outro lado, nunca se exibe a nudez frontal, isso sim, um pecado mortal…
Curiosamente, o mesmo se aplica aos filmes de matinée, aos noticiários, aos documentários e até aos debates, onde a violência verbal (nomeadamente nos futebolísticos) atinge patamares pornográficos.
Na minha forma de ver o mundo, um corpo humano despido é, a priori, inócuo, enquanto que a violência é um instinto que convém refrear, não acicatar.
A nossa sociedade considera normal que uma criança possa assistir a combates de MMA, filmes com exibições de violência grotescas (fiquei chocado com um que passou na televisão, num domingo à tarde, chamado O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos, onde as guerras e combates eram de uma pornográfica violência explícita), notícias de acidentes com mortos e feridos, assassinatos, violências domésticas ou actos de terrorismo (nos espaços noticiosos que fazem do impulso voyeurista da violência o seu caça audiências), séries nas quais a mente e os actos dos psicopatas são o cerne da história.
Também se aceita com brandura que as crianças e os jovens estejam viciados em diferentes jogos online de violência, como o Fortnite.
Enfim, sangue, feridas, armas, esmagamento de ossos e crânios, gritos, tiros e explosões, tudo bem. Um mamilo, um pénis, uma vulva ou pêlos púbicos, o horror!
Malogradamente, esta é também a política dos novos média como o YouTube, o Instagram, o Twitter ou o Facebook, perpetuadores deste puritanismo hipócrita (mesmo que sejam obras de arte que mostrem os tais interditos).
Perverso é considerar que a exibição das “vergonhas” é necessariamente um mal (quando é através delas se perpetua o ser humano e se pode ter prazer) ao mesmo tempo que se aceita a força da violência e da raiva, que destrói a humanidade e causa a morte, como algo trivial.
Gabriel Leite Mota, publicado no P3 a 28 de Dezembro de 2018
Friday, December 21, 2018
JOÃO MIGUEL TAVARES AFINAL GOSTA DE SÓCRATES
Na crónica “Portugal em 2019: não, isto não é a aldeia do Astérix”, João Miguel Tavares (JMT) avisa os portugueses que o melhor que têm a fazer nas eleições legislativas de 2019 é votarem no PS, para que esse partido tenha maioria absoluta.
JMT diz que essa é a melhor solução para Portugal nos próximos quatros anos, uma vez que é preciso reconstruir a direita portuguesa com tempo e assegurar a estabilidade política dada pelas maiorias absolutas, face a quatro anos que JMT prevê serem turbulentos a nível europeu e mundial, com inevitáveis consequências para Portugal.
Fala ainda de querer ver o PS a governar em tempos de dificuldade, para provar que é capaz de pagar os seus créditos. Um dos receios que tem é que os populismos comecem a emergir com força em Portugal e, por isso, nada melhor do que uma maioria absoluta bloqueadora.
Não deixa de ser fascinante que alguém que se diz liberal e que enverga a capa de super-herói anti-socrático queira agora o conservadorismo do poder absoluto e, ainda por cima, nas mãos do Governo que tem tantos dos escolhidos de Sócrates.
Acontece que o argumentário de JMT é falacioso por duas razões: primeiro, porque os grandes males da nossa democracia consolidaram-se e espalharam-se com as maiorias absolutas, de Cavaco e Sócrates, onde os BPN e BES ou as PPP mais prosperaram e facilitaram as portas giratórias do roubo público para as vidas douradas no privado. Ou seja, não interessa quem é o primeiro-ministro — a política não é a vontade de um homem só , interessa se o poder é mais ou menos absoluto e, por isso, devemos temer ao máximo as maiorias absolutas; segundo, os perigos do populismo nada têm a ver com maiorias relativas e coligações (a normalidade nas democracias mais avançadas do mundo), mas sim com políticas concretas lesivas das classes médias e baixas, a corrupção, a globalização desregulada e as desigualdades crescentes. Ter uma democracia mais competitiva, com mais partidos e mais instrumentos de expressão directa da vontade dos cidadãos é o que precisamos para estancar populismos nacionais. Não o entregar de poderes absolutos aos partidos do costume.
Seria muito saudável que, em 2019, não existissem maiorias absolutas e fossem eleitos mais partidos para o Parlamento. Mesmo que isso gerasse alguma agitação parlamentar, seria uma oportunidade para aumentarmos o debate das ideias, incrementar hábitos de compromisso e negociação e captar nova gente para a política.
Uma maioria absoluta (seja de que partido for) trará perigos terríveis de perpetuação dos pântanos passados, esses sim potenciadores de possíveis cenários apocalípticos de rupturas democráticas.
Gabriel Leite Mota, publicado no p3 a 21 de Dezembro de 2018
Thursday, December 20, 2018
ELON MUSK E O DESPREZO PELAS TECNOLOGIAS SOCIAIS
Recentemente foi notícia um tweet de Elon Musk em que este afirmava, com orgulhosa convicção, que ninguém mudava o mundo a trabalhar 40h por semana.
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